Rodrigo Eneas

Rodrigo Eneas

O mais recente episódio da série "Tendências para Cidades" abordou o tema "Segurança alimentar nos municípios", discutindo os desafios e oportunidades para garantir que todos os cidadãos tenham acesso a alimentos de qualidade e de forma sustentável. Realizado na terça-feira, 17 de setembro, o evento contou com a participação de especialistas em segurança alimentar e políticas públicas, que compartilharam suas experiências e sugestões para gestores municipais.

Participaram Rafaela Vieira, gerente de Políticas Públicas do Instituto Pacto Contra a Fome; Rodrigo Kiko Afonso, CEO da ONG Ação da Cidadania; e Francine Xavier, diretora do Instituto Comida do Amanhã.

Rafaela Vieira iniciou o debate destacando a importância de políticas públicas integradas e focadas no combate à fome e à insegurança alimentar. A gerente trouxe um breve panorama teórico sobre os diferentes tipos de insegurança alimentar e sobre a distribuição dos tipos de fome, sinalizando a necessidade de localizar as políticas públicas específicas para cada tipo de situação. Finalizou apresentando uma agenda municipal para combate à fome, perda e desperdício de alimentos, construída pelo Pacto Contra a Fome em conjunto com outras organizações, apresentando os eixos prioritários para as ações nesse sentido e apontando a necessidade da implementação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN), a partir da adesão dos municípios.

Francine Xavier apresentou o Comida do Amanhã, um think thank focado na elaboração de conteúdo para construção de melhores práticas em políticas alimentares que se articula com diversos atores, organizações e municípios para auxiliar e capacitar para a implementação dessas práticas. Introduziu também uma agenda preparada pela organização para as eleições municipais de 2024, apontando a importância do combate à pobreza, doação de cestas básicas, restaurantes e cozinhas comunitárias, a partir da ação integrada de secretarias municipais diversas e da criação de uma governança voltada para a construção da Segurança Alimentar.

Rodrigo Kiko Afonso apresentou brevemente a Ação pela Cidadania e apontou a efetividade das políticas públicas para assegurar a segurança alimentar a partir de um panorama do período recente no Brasil, demonstrando as variações nas estatísticas do tema a partir da maior ou menor incidência dessas políticas. Elencou também as medidas que podem ser adotadas no âmbito municipal para combater a fome e a insegurança alimentar, inclusive a importância de fortalecer a agricultura familiar nos municípios para garantir o fornecimento de alimentos de qualidade.

O encontro foi concluído com uma sessão de perguntas e respostas, na qual os participantes tiveram a oportunidade de interagir com os palestrantes e discutir as dificuldades práticas da implementação dessas políticas, além de sugerirem soluções.

Organizado pela Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos com o apoio da Comunitas, o evento faz parte da série "Tendências para as Cidades", que explora temas fundamentais para a gestão municipal. O próximo episódio, agendado para 20 de setembro, abordará o tema "Utilização de energias renováveis no setor público" e será transmitido ao vivo pelo YouTube da FNP.

Este episódio sobre segurança alimentar pode ser acessado aqui.

Nesta terça-feira, 12 de setembro, a Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) participou do webinário "Promoção da Igualdade Racial como veículo para o desenvolvimento dos municípios brasileiros", realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) em parceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR). O evento reuniu gestores, especialistas e representantes de diversas entidades municipalistas, incluindo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), a Associação Brasileira de Municípios (ABM) e o Conselho da Federação, para discutir a importância das políticas de promoção da igualdade racial para o desenvolvimento das cidades. 

A abertura foi feita por Betânia Lemos, presidente da ENAP, que destacou o papel fundamental dos municípios no combate às desigualdades raciais. Logo após, as entidades municipalistas se pronunciaram, com falas de Rosângela Ribeiro, consultora da CNM, do prefeito Ary Vanazzi, representando a ABM, e de Jeconias Júnior, secretário-executivo adjunto da FNP. 

Jeconias reforçou a urgência de trazer a igualdade racial para o centro das políticas públicas municipais: “Trazer a igualdade racial para o centro da agenda federativa é uma premissa importantíssima. Durante a última reunião do Conselho da Federação, nosso presidente, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, destacou a necessidade de avançarmos em ações coordenadas de políticas de igualdade racial. Temos desafios históricos e reparações que precisam ser reconhecidas para avançarmos como sociedade.”

O Secretário nacional de gestão do SINAPIR, Yuri Silva, também apresentou o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), que organiza e articula políticas e serviços para superar o racismo em todo o país. Ele destacou que a adesão dos entes federados é crucial para garantir o acesso a recursos federais e para a implementação coordenada dessas políticas entre os governos federal, estaduais e municipais.

O evento contou ainda com a participação de Rafael Bruxellas, Secretário-executivo do Conselho da Federação, que enfatizou a importância da articulação federativa para o sucesso das políticas do SINAPIR. Em seguida, gestoras especialistas como Tatiana Silva, diretora do MIR, e Laís Queiroz, coordenadora de projetos do SINAPIR, abordaram os desafios e as oportunidades para promover a igualdade racial nos municípios brasileiros.

Voltado para prefeitas/os, secretárias/os estaduais e municipais, servidoras/es públicas e representantes da sociedade civil, o evento faz parte do programa Formação e Iniciativas Antirracistas (FIAR). O FIAR, uma parceria entre o MIR e a ENAP, busca capacitar servidores públicos para integrar a questão racial nas políticas públicas, contribuindo para práticas administrativas inclusivas e conscientes, transversalizadas pela construção e fortalecimento de estratégias de superação do racismo e das desigualdades raciais.

Assista o webinário completo aqui.

Na última terça-feira, 10, a Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) realizou a 34ª edição do "Tendências para as Cidades", uma série de webinários voltada ao fortalecimento dos planos de governo dos candidatos às prefeituras municipais. O tema desta edição foi "Investimento em moradia popular, regularização fundiária e locação social", discutindo como as cidades podem participar dos programas habitacionais federais e enfrentar a crise de moradia no país.

O governo federal tem buscado “mitigar as carências sociais e promover o direito à moradia adequada à população de baixa renda”, oferecendo financiamentos subsidiados para obras de regularização fundiária e melhorias habitacionais em áreas urbanas informais. No entanto, a implementação dessas políticas depende da atuação das prefeituras, que devem mapear áreas prioritárias, desenvolver projetos, e respeitar as diretrizes dos Planos Diretores de suas cidades.

Durante o debate, especialistas destacaram que a regularização fundiária é um processo detalhado e, muitas vezes, lento, exigindo a participação de uma equipe técnica que trabalhe de forma integrada com o governo e a comunidade local. A intenção do encontro foi orientar os gestores a incluírem uma política habitacional em seus Planos de Governo, garantindo que as soluções sejam adaptadas às particularidades de cada município.

Palestrantes

Entre os palestrantes, Marcus Fiorito, mestre e doutorando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF), compartilhou sua vasta experiência em projetos urbanos voltados para habitação social e patrimônio cultural. Atual coordenador de Programas do ONU-Habitat Brasil, Fiorito ressaltou a importância de um planejamento urbano que integre habitação, meio ambiente e cultura, destacando o papel das prefeituras na execução de políticas públicas de moradia.

Luciana de Oliveira Royer, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e coordenadora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos, enfatizou que a tecnologia e a inovação são essenciais para desenvolver soluções habitacionais que respeitem as condições urbanísticas e os direitos das populações mais vulneráveis.

A advogada Raquel Luane, especialista em Direito Imobiliário e Regularização Fundiária, trouxe a perspectiva jurídica do tema. Presidente da Comissão de Regularização Fundiária da prefeitura de Brumadinho/MG, Raquel discutiu os desafios legais enfrentados pelos municípios no processo de regularização de áreas urbanas e a importância de garantir segurança jurídica para os moradores.

Assista o webinário completo aqui.

A Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) encaminhou, no último dia 6, um ofício à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), apresentando suas contribuições à Consulta Pública Nº 1249/2024. A consulta propõe a revisão de importantes resoluções da Diretoria Colegiada, como as RDCs nº 49/2013 e nº 153/2017, além de normas correlatas, que tratam de questões sanitárias que afetam diretamente os municípios.

O documento, assinado pelo presidente da FNP, Edvaldo Nogueira, prefeito de Aracaju/SE, foi elaborado por um grupo de trabalho composto por representantes de 17 municípios, constituído após uma reunião realizada no dia 12 de agosto, que contou com a participação de mais de 200 pessoas. O grupo consolidou as preocupações e sugestões dos municípios associados à FNP com o objetivo de garantir que as normativas em discussão considerem as particularidades locais e evitem retrocessos.

Entre os pontos destacados pela FNP estão o impacto das revisões na autonomia dos estados e municípios, especialmente no que se refere ao licenciamento sanitário. A entidade defende que a centralização excessiva de decisões na ANVISA pode comprometer o equilíbrio do sistema e prejudicar a formalização de microempreendedores individuais (MEIs), que são fundamentais para a economia local.

A FNP propõe que a exigência de um responsável técnico para os MEIs seja cuidadosamente avaliada, levando em consideração a natureza das atividades realizadas. Além disso, a FNP reforça a importância de um monitoramento pós-mercado para garantir a qualidade dos produtos e serviços oferecidos.

Outro ponto de destaque nas contribuições da FNP é a necessidade de revisar a classificação de risco das atividades econômicas. A entidade sugere que serviços de baixo impacto, como o comércio de alimentos industrializados e hortifrutigranjeiros, permaneçam classificados como de baixo risco, facilitando o processo de licenciamento sanitário automático. Já atividades como o fracionamento de produtos no varejo, que exigem maior cuidado, devem continuar sendo classificadas como de alto risco, com a necessidade de inspeção prévia.

A FNP também questiona a inclusão de atividades não relacionadas diretamente à vigilância sanitária, como o aluguel de palcos e o comércio de matérias-primas agrícolas, nas normas propostas pela ANVISA. A entidade defende que tais atividades sejam fiscalizadas por órgãos competentes de acordo com sua natureza específica.

O ofício conclui reiterando o compromisso da FNP em colaborar com a revisão das normas em vigor, desde que sejam respeitadas as especificidades locais e a segurança sanitária da população.

Axel Grael participa de encontro em Brasília ao lado das ministras Marina Silva e Simone Tebet

O prefeito de Niterói/RJ, Axel Grael, foi um dos palestrantes do 2° Seminário “Desafios da Federação: Caminhos para a construção do federalismo climático no Brasil”, evento realizado nesta terça-feira, 3, pela Secretaria de Relações Institucionais (SRI), da Presidência da República, em Brasília/DF.

O seminário tem por objetivo refletir sobre os desafios e caminhos possíveis para a governança climática no federalismo brasileiro. O prefeito Grael é 3º vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) e presidente da Comissão Permanente de Cidades Atingidas ou Sujeitas a Desastres (CASD).

Grael falou sobre a importância dos municípios para a ações relacionadas às mudanças climáticas e suas consequências. “É necessário um chamamento para a união de todos os entes da federação, incluindo todos os níveis de governo, os Três Poderes, Forças Armadas, com participação da sociedade civil e os diversos segmentos do setor produtivo, inclusive os ligados ao agronegócio. Com a realidade atual e as perspectivas que temos, o prejuízo é de todos. Por isso, este é um desafio que deve ser enfrentado com todas as forças”, afirmou o único prefeito convidado a participar do seminário.

Ao lado de Axel Grael, estiveram na mesa de abertura as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e do Planejamento, Simone Tebet, além do ministro do Superior Tribunal Federal, Gilmar Mendes, da secretária especial de Assuntos Federativos, Juliana Carneiro, e do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.

 

A economia para os municípios que aderirem ao instrumento pode chegar a 35%, considerando a comparação entre os preços pesquisados e os registrados pelo CONECTAR

No último dia 12 de agosto, o Consórcio Conectar promoveu pregão eletrônico visando o registro de preços para aquisição, por parte dos municípios consorciados, de medicamentos fundamentais para o tratamento de diversas condições de saúde no âmbito da Atenção Básica.

Os medicamentos licitados são voltados para o tratamento de condições crônicas como hipertensão, colesterol alto, diabetes, doenças respiratórias, hipotireoidismo, entre outras, todas de alta prevalência na população atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Os medicamentos foram agrupados por classe farmacológica e, dos 8 (oito) lotes colocados para disputa na licitação, que contou com a participação de 14 (catorze) fornecedores, o consórcio logrou êxito em 5 (cinco), tendo os demais sido declarados fracassados em razão dos fornecedores não atenderem normas do edital.

Os lotes que tiveram sucesso abrangem medicamentos de grupos farmacológicos cruciais: aparelho cardiovascular, aparelho digestivo e metabolismo, aparelho respiratório, sangue e órgãos hematopoéticos, além de anti-infecciosos para uso sistêmico. Estes medicamentos são fundamentais para o controle de condições de saúde que afetam uma grande parcela da população e para a continuidade do cuidado oferecido pelas unidades de saúde da Atenção Básica.

Mais detalhes sobre o pregão podem ser consultados no site do Consórcio Conectar, reforçando o compromisso do consórcio com a transparência e a eficiência no processo de aquisição de medicamentos que são vitais para a saúde pública.

O episódio mais recente da série “Tendências para cidades” debateu o tema "Merenda escolar estimulando o desenvolvimento econômico local". O evento, ocorrido nesta terça-feira, 3 de setembro, focou em como os programas de alimentação escolar podem impulsionar a economia local ao incorporar alimentos produzidos regionalmente, incluindo e priorizando aqueles provenientes da agricultura familiar. Com a participação das palestrantes Maria Alvim Leite, pesquisadora do NUPENS/USP; Fernanda Menezes, responsável técnica da Coordenadoria de Alimentação Escolar da Prefeitura de São Paulo; e Rafaela Vieira, gerente de Políticas Públicas do Pacto Contra a Fome, o encontro buscou fornecer aos futuros gestores municipais percepções valiosas para incluir em seus planos de gestão.

Segurança alimentar, saúde para crianças e adolescentes e agricultura familiar

Maria Alvim Leite iniciou o debate destacando a necessidade de reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados devido aos seus efeitos nocivos na saúde humana, sobretudo entre as crianças e adolescentes – que estão entre seus maiores consumidores e são o público-alvo majoritário das políticas de merenda escolar. A pesquisadora destacou medidas e normas jurídicas que tratam do tema no Brasil, além de mencionar o Guia Alimentar para a População Brasileira como um importante documento orientador. Segundo Alvim, a adoção de parcerias com produtores locais, sobretudo da agricultura familiar, pode gerar benefícios duradouros, tanto para a saúde dos alunos quanto para a economia local.
Rafaela Vieira abordou a segurança alimentar e o combate à fome, sobretudo na infância, e destacou a relação entre a educação e a fome, que está ligada à redução do desempenho escolar, menor progressão para os próximos anos escolares e à evasão escolar. A palestrante apontou também o importante papel da escola enquanto lugar de aprendizagem de hábitos alimentares saudáveis, além de destacar o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) enquanto exemplos de políticas públicas com impactos no desempenho escolar e em menores índices de obesidade, além do respeito à cultura alimentar local e o aumento na renda média dos agricultores locais.

Colocando em prática: o exemplo de São Paulo

Fernanda Menezes contextualizou a realidade das políticas de alimentação escolar de São Paulo, o maior executor do PNAE do país, com mais de um milhão de alunos e mais de 10 mil cozinheiras escolares. A Coordenadoria de Alimentação Escolar (CODAE) do município busca adotar práticas sustentáveis, fortalecer a agricultura familiar gerando emprego e renda, reduzir impactos ambientais promovendo a produção local e o melhor uso dos recursos, incentivar a produção e o consumo de alimentos orgânicos e agroecológicos, promover práticas alimentares saudáveis e combater o desperdício de alimentos. A coordenadora elencou boas práticas do município neste âmbito, destacando também a importância de entender a alimentação escolar não apenas como um serviço prestado pelo município, mas como uma função pedagógica.

Organizada pela Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos e com o apoio da Comunitas, a série Tendências para as Cidades é composta por webinários que exploram tendências emergentes na gestão municipal. O próximo episódio, agendado para 6 de setembro, às 10h, abordará o tema "As oportunidades das PPPs e Concessões" e será transmitido ao vivo no YouTube.

O Episódio 32 - "Merenda escolar estimulando o desenvolvimento econômico local" - pode ser acessado aqui.

Por: Axel Grael - Prefeito de Niterói/RJ

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, declarou que 1.500 municípios, ou seja 27%, estão em situação de calamidade. Sofrem com inundações, seca severa, incêndios em vegetação, deslizamento de encostas, crise de abastecimento de água ou outras graves situações, quase sempre de origem climática. Trata-se de uma realidade que não está longe de nós: o Brasil está em chamas e isso vem ocorrendo de forma recorrente, ano após ano! 
 
No último sábado (17), viajei de helicóptero pelo interior fluminense até a Região das Baixadas Litorâneas. Passei por uma região que já foi uma das mais ricas em biodiversidade do estado do Rio de Janeiro: a Bacia Hidrográfica do Rio São João, que já teve uma exuberante Mata Atlântica, com a riqueza dos brejos, matas de baixada, restinga, manguezais. Hoje, sobrou muito pouco e se nada for feito, o que resta estará com os dias contados. 

Com muita tristeza, vi fumaça de queimadas por todos os lados e a destruição causada por elas. Muitos focos de incêndio e grandes extensões de áreas já queimadas. Alguns dos últimos fragmentos remanescentes de florestas estavam rodeados pelo fogo ou já estavam atingidos, com sinais de fumaça.

Nos morros, o que se vê hoje com frequência naquela paisagem são pastos degradados e tomados pela erosão causada pela queima reincidente, pela falta de cobertura do solo e pelo manejo inadequado, com sobrepastoreio. Com exceção de algumas poucas áreas com uma produção mais estruturada, com pecuária e plantios de cítricos e de alguma atividade turística nas margens do reservatório de Juturnaíba, vemos vastas extensões de terras planas e agricultáveis, mas degradadas e quase sempre ociosas. Em outros países carentes de terras para produzir, estas áreas seriam certamente valorizadas, cultivadas e produtivas.

Importante lembrar que a região também é de importância estratégica para o abastecimento de água, principalmente da Região dos Lagos, que tem em Juturnaíba o seu único manancial. A represa foi construída entre 1982 e 1984, inundando a Lagoa de Juturnaíba, então naturalmente existente, para aumentar a capacidade de estocar água dos rios São João, Capivari e Bacaxá. Trata-se do maior reservatório de água doce destinado ao abastecimento humano no estado do Rio de Janeiro (fonte), suprindo a demanda dos moradores de oito municípios, totalizando mais de 500.000 habitantes.

Tesouro natural

A visita e as cenas que vi me fizeram lembrar de algumas leituras que me marcaram.

No início da década de 1980, quando eu ainda era estudante de engenharia florestal, me encantava com a leitura dos livros escritos por um renomado geógrafo, geólogo e engenheiro chamado Alberto Ribeiro Lamego (1896-1985), natural de Campos de Goitacazes, autor da série "O Homem e o Brejo (1945)", "O Homem e a Restinga" (1946), "O Homem e a Serra" (1964) e "O Homem e a Guanabara" (1966). Escreveu também sobre a nossa Niterói em "A Geologia de Niterói na tectônica da Guanabara" (1945) e tantas outras obras importantes sobre a natureza e a históriado estado do Rio de Janeiro.

Certa vez, encontrei o contato do mestre no catálogo telefônico e tive a ousadia de ligar e pedir para conhecê-lo pessoalmente. Para minha alegria e surpresa, Dr. Lamego aceitou receber aquele jovem desconhecido! Fui carinhosamente atendido por ele e sua gentil esposa. O casal, já bem idoso, me recebeu em casa com café e bolo. Fiquei horas em instrutiva, agradável e inesquecível conversa com o casal. Dr. Lamego me mostrou a sua valiosa biblioteca e compartilhou muita informação. 

Falamos principalmente sobre o "O Homem e o Brejo" e "O Homem e a Guanabara" e, claro, sobre Niterói. Ele me contava sobre a riqueza dos ecossistemas estuarinos e brejosos do RJ e como antigos povos indígenas lutavam entre si para defender a supremacia sobre essas áreas. A rica biodiversidade garantia a alimentação farta, portanto, a qualidade de vida de quem ali habitava. No processo de ocupação europeia, estes recursos foram desperdiçados através de processos e práticas inadequadas e perdulárias que duram até hoje. É o caso da prática do fogo.

Outra leitura que lembrei foi o registro feito pelo naturalista britânico Charles Darwin, em 1832, sobre a exuberância das florestas no entorno do Rio São João e o seu efeito sobre a umidade do ar:

 

"Logo que parou de chover, foi curioso observar a extraordinária evaporação que se começou a processar sobre toda a extensão da floresta. A uma altura de trinta metros, as colinas desapareciam em densa neblina branca que se erguia como colunas de fumaça saindo das partes mais cerradas da mata, especialmente dos vales" (Charles Darwin: "Viagem de um naturalista ao redor do mundo").

 

A "densa neblina" de umidade que Darwin se refere é um dos mais importantes serviços ambientais que a floresta proporciona. Esta umidade gera chuvas e abastece mananciais, que viabilizam a vida. É a evapotranspiração na Amazônia que garante a produtividade do agro do Cerrado e que umedece uma grande parte da América do Sul. Menos floresta, menos chuva. Menos chuva, mais riscos de incêndio. Um ciclo vicioso. É o que estamos vendo acontecer. Nos últimos dias, tomamos conhecimento de mais um relatório do MapBiomas que alertou que o Brasil ja perdeu 33% das suas florestas.

Lamentavelmente, a cena que Darwin descreveu já não existe mais. A neblina saudável proporcionada pela floresta agora dá lugar à devastação improdutiva e à poluente névoa de fumaça dos incêndios em vegetação. 

Prioridade mundial para a conservação da biodiversidade
 
Há um vasto acervo de legislação para proteger as florestas brasileiras e coibir as queimadas (um ato criminoso), como o Código Florestal, Lei de Crimes Ambientais e tantas outras. O grande problema está na capacidade de se implementar a lei.
 
A região que sobrevoamos está muito próxima de locais de relevância internacional para a conservação da biodiversidade, como a Reserva Biológica de Poço das Antas e a Reserva Biológica União, ambas consideradas como estratégicas para a proteção do mico-leão-dourado, seriamente ameaçado pela redução e fragmentação do seu hábitat, que são as matas de baixada. As duas reservas são administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
 

A região também conta com a cobertura da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João / Mico-Leão-Dourado, criado pelo Decreto Não Numerado de 2 de junho de 2002 e também sob administração federal pelo ICMBIO. Segundo o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João / Mico-Leão Dourado, publicado em maio de 2008, pelo ICMBIO, os marcos geográficos referenciais da APA são: limite da bacia hidrográfica do rio São João excetuando-se as áreas urbanas de Casimiro de Abreu e Silva Jardim, além da região ao sul do rio Bacaxá, na porção sul da bacia, formada por solos degradados ou com intensa interferência antrópica. Também são excluídas do perímetro da APA as Reservas Particulares do Patrimônio Natural e as Unidades de Conservação mais restritivas que a APA: Reserva Biológica de Poço das Antas, Reserva Biológica União, Parque Estadual dos Três Picos e Parque Natural Municipal do Mico-Leão-Dourado.

Conforme consta no Plano de Manejo, o objetivo de criação da APA foi ordenar o uso do solo no entorno das duas Reservas Biológicas, proteger o valioso e complexo sistema hídrico da região e conservar os ecossistemas associados à Mata Atlântica, como: Matas de Baixada, Matas de Morrote, Matas de Encosta, Mangues, Restingas e ambientes lacustrinos.


Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - RBMA
 
Este instrumento de proteção e planejamento garantiu a relevância mundial para a área, reconhecida pela UNESCO. Os principais remanescentes da Mata Atlântica do Rio de Janeiro foram inicialmente tombados pelo edital da Secretaria do Estado da Cultura do Rio de Janeiro, de 4 de Março de 1991. Posteriormente, obtivemos a homologação como Reserva da Biosfera, em 8 de Outubro de 1992 e recebemos o amparo do Decreto Federal No. 750, de 10 de Fevereiro de 1993. Conforme citado na publicação "A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro" (Conselho da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 2002), as medidas aqui citadas foram alcançadas quando fui presidente da Instituto Estadual de Florestas - IEF-RJ (1991-1994), órgão estadual que hoje compõe o INEA.

 

Mosaico da Mata Atlântica Central
 
Outra iniciativa relevante para a conservação na região é o Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense, criado pela Portaria 350 de 11 de dezembro de 2006, assinada pela ministra de estado do Meio Ambiente, Marina Silva. O mosaico abrange 22 áreas protegidas federais, estaduais e municipais.
 
Proteção, destruição e queimadas

As cenas desoladoras que vimos no sobrevoo do último sábado não ocorrem por falta de legislação ou forma de monitorar e identificar os responsáveis pelos focos de queimadas. Temos as leis e a tecnologia para isso. Há um enorme desafio que é superar uma prática fortemente disseminada na população urbana e rural de utilizar criminosamente o fogo para diversos fins, como mudança do uso do solo (desmatamento), "limpeza" de terreno, queima de lixo e até a prática ilegal e irresponsável de soltar balões. O problema é agravado pela falta de pessoal, estrutura e meios necessários para que os órgãos ambientais atuem na fiscalização e punição ao uso do fogo.
 
O Brasil assumiu o compromisso perante a comunidade mundial nas conferências climáticas de controlar o desmatamento e as queimadas, que são responsáveis pela maior parte das emissões de Gases do Efeito Estufa - GEE no país. Também nos comprometemos na nossa NDC a recuperar 24 milhões de hectares de terras degradadas, o que não foi sequer iniciado. A extensão de terras degradadas ainda cresce aceleradamente no Brasil.
 
Recentemente, após um ciclo governamental genocida que incentivou a destruição das florestas brasileiras, estamos conseguindo reduzir o desmatamento na Amazônia. Mas, estamos vendo o problema crescer com gravidade nos biomas do Pantanal e do Cerrado.
 
No ano que vem, em 2025, o Brasil receberá a COP-30, conferência em que todos os países farão uma repactuação dos seus compromissos climáticos assumidos perante o Acordo de Paris, em 2015. Portanto, seremos anfitriões de um dos momentos mais importantes na transição para a sustentabilidade e para a segurança climática. Temos a obrigação de apresentar metas ambiciosas e factíveis. E cumpri-las!
 
Niterói está fazendo a sua parte. Fomos a primeira cidade do país e criar uma Secretaria Municipal do Clima e temos uma política pioneira e eficiente de controle de incêndios em vegetação.
 
Mas, o Brasil,  que será sede da COP30 no ano que vem, não pode mais seguir sem ter um plano de contingência nacional para desastres climáticos, incluindo incêndios em vegetação. Precisamos ter uma forte estratégia preventiva e um plano de resposta para emergências. Não é possível assistirmos um bioma inteiro se perder como está acontecendo com o Pantanal, que tem sido devastado a cada período de seca.
 
É preciso fazer do controle do desmatamento e das queimadas uma grande mobilização nacional, não apenas uma ação de governo. Precisa ser entendido como um compromisso das atuais com as futuras gerações. Há que se fazer um grande esforço de comunicação, educação ambiental e de apuração de responsabilidades. Salvo raríssimas exceções, toda queimada tem origem antrópica e quem comete esse crime tem que ser punido.
 
É inadmissível continuar vendo cenas como descrevi aqui. É preciso agir!
 
Texto original está disponível no blog do prefeito. Clique aqui para ler.

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 28 de agosto, um projeto de lei complementar que representa uma significativa vitória para os municípios brasileiros, com a marca da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP). O texto aprovado retira dos limites de despesas com pessoal os gastos relacionados à terceirização e às organizações da sociedade civil, uma reivindicação FNP.

O projeto aprovado é um substitutivo da deputada Nely Aquino (MG) para o Projeto de Lei Complementar (PLP) 164/12, originalmente apresentado pela deputada Elcione Barbalho (PA). A mudança proposta altera a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que fixa limites para os gastos com pessoal em relação à receita corrente líquida: 50% para a União e 60% para estados e municípios.

A nova lei abrange despesas relacionadas ao fomento público de atividades do terceiro setor, por meio de subvenções sociais, e à prestação de serviços contratados de empresas, organizações sociais, cooperativas ou consórcios públicos. Exemplos dessas situações incluem empresas terceirizadas de limpeza urbana e contratos de gestão hospitalar, entre outros.

A aprovação do projeto é resultado de um intenso trabalho de articulação da FNP, que, nos últimos meses, promoveu diversas reuniões com deputado Gilson Daniel, autor do PLP 98/2023 que trata do tema, com a deputada Nely Aquino e até mesmo com o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Antônio Anastasia. As reuniões foram articuladas pelo prefeito de Guarulhos/SP, Guti, vice-presidente de Regiões Metropolitanas da FNP.

A conquista é vista como um alívio para os gestores municipais, que agora terão mais flexibilidade para gerir seus orçamentos sem comprometer os limites impostos pela LRF.

A última edição da série de webinários "Tendências para as Cidades" abordou a descarbonização da mobilidade urbana, tema central para criar cidades sustentáveis e resilientes. O evento ocorreu na terça-feira, 27 de agosto, e apresentou especialistas na área com o objetivo de oferecer uma visão abrangente sobre as estratégias para reduzir as emissões de carbono no transporte urbano.

Participaram do encontro Carmen Araújo, Líder regional do escritório do ICCT no Brasil; Érica Vieira Marcos, Gerente Ambiental da Confederação Nacional do Transporte (CNT); e Carolina Guimarães, especialista em cidades sustentáveis e mobilidade urbana. Essas três vozes de destaque compartilharam suas experiências e discutiram soluções para implementar mudanças estruturais na mobilidade das cidades brasileiras.

Descarbonização nas políticas urbanas de mobilidade


Carolina Guimarães iniciou o debate destacando o papel que o transporte exerce nas emissões de gases de efeito estufa. Apontou que, para atingir os objetivos alinhados no Acordo de Paris, é necessário reduzir as emissões drasticamente. Para isso, é preciso reformular a maneira como as pessoas se deslocam no espaço urbano, repensando as cidades e os meios de transporte. Além disso, a especialista reforçou a transversalidade da perspectiva de gênero neste debate.

Érica Vieira Marcos abordou como as entidades de transporte, sobretudo a CNT, vêm atuando no âmbito da descarbonização. Abordou as linhas práticas de ação que a Confederação tem adotado no suporte à redução das emissões e à adoção de práticas sustentáveis no setor. No Brasil, os transportes são responsáveis pelo deslocamento de pessoas e mercadorias, cumprindo uma função econômica fundamental. A gerente destacou a relevância de fiscalizar, adotar tecnologias mais recentes e qualificar os atores para aperfeiçoar seus processos e práticas.

Carmen Araújo apontou que a recente redução de usuários do transporte público nos últimos 10 anos pode colocar desafios para os processos de descarbonização da mobilidade urbana. Argumentando em favor da adoção de frotas elétricas, enfatizou os rápidos avanços na produção de veículos, além da maior eficiência em relação a combustíveis fósseis, menor custo operacional e a significativa redução das emissões de gases de efeito estufa e outros poluentes.

Superando obstáculos: desafios e soluções para a descarbonização

Encerrando o evento, as palestrantes abordaram os desafios para a implementação de medidas de descarbonização, como a criação de infraestrutura de abastecimento para uma frota elétrica e a adoção de políticas de incentivo ao transporte público, além da conciliação entre necessidades ambientais e econômicas. Apesar dos desafios, é possível agir de forma coordenada para adotar medidas de descarbonização da mobilidade urbana como um passo essencial para que as cidades brasileiras avancem rumo a um futuro mais verde, com menos emissões e resiliente às mudanças climáticas.

“Tendências para cidades” é uma iniciativa da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP), com apoio da Comunitas. O próximo webinário da série acontecerá na próxima sexta-feira (30/08), às 10h, e terá como tema "Fundos de resiliência fiscal para municípios".

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