01/10/15

Autoridades questionam Medida Provisória que trata dos terrenos de marinha no país

Paulo Negreiros/FNP Prefeito de Vitória (ES), Luciano Rezende, participa de audiência no Senado sobre Terrenos de Marinha Prefeito de Vitória (ES), Luciano Rezende, participa de audiência no Senado sobre Terrenos de Marinha

O Senado Federal debateu na tarde desta quarta-feira (30) a previsão contida na Medida Provisória (MP) 691/2015, de que os municípios ficariam com a renda dos terrenos de marinha a serem vendidos pela União. O prefeito de Vitória (ES) e vice-presidente de Relações Internacionais da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Luciano Rezende, participou da audiência pública, representando a FNP.

Rezende expressou sua preocupação com a execução, da forma como está, da Medida Provisória. “Eu acho extremamente difícil, para não falar impossível, a execução dessa medida provisória. As medidas dessa MP são muito complexas e de dificílima execução no dia a dia, inclusive com alguns questionamentos que eu não encontro respostas no momento, a começar pela total impossibilidade de se criar, com segurança, um valor, ou ser justo com o cidadão que já pagou pelo terreno de marinha, até mesmo a demarcação desses terrenos, que em Vitória é extremamente caótica. Essa demarcação é que vai servir como base pra que tudo que está escrito nessa MP?”, questionou.

O prefeito lembrou que a cidade de Vitória tem 70% de seu território em terrenos de marinha e observou que há uma “chicana jurídica sem fim em todo conflito com terrenos de marinha”. “A demarcação de terrenos de marinha em Vitória criou monstros. Uma casa em uma rua é terreno de marinha, outra casa já não é terreno de marinha. Há dados concretos de pessoas que perderam terrenos em morros, onde o mar nunca bateu nem no tempo pré-histórico”, afirmou.

Participação da FNP

O senador Ricardo Ferraço (ES) sugeriu ao prefeito de Vitória, que juntamente com os prefeitos da Frente Nacional de Prefeitos, elaborassem um texto, a ser apresentado a comissão mista que está estudando a MP 691/2015, com propostas efetivas e soluções para os terrenos de marinha no país. “Vejo como essencial a participação da FNP na construção de uma proposta plausível para a questão dos terrenos de marinha. Então peço a colaboração dessa entidade que produza esse texto o mais rapidamente possível e nos apresente”, frisou o senador.

Outras destinações

Além de permitir a venda de imóveis em terrenos de marinha e estabelecer a destinação dos recursos advindos da venda, a MP 691/2015 também prevê a municipalização da gestão de praias marítimas urbanas.

O procurador do município de Florianópolis (SC), Elton Rosa Martinovsky, também participou de audiência pública na comissão mista que analisa a MP. O procurador também se mostrou preocupado com a aprovação da Medida Provisória 691/2015. “A previsão contida na MP, de que os municípios ficariam com a renda dos terrenos de marinha a serem vendidos pela União, pode não ser vantajosa, visto que o proveito econômico será pequeno diante do aumento das responsabilidades das administrações locais. Além disso, as receitas auferidas com as permissões de uso na praia passam a ser dos municípios que assinarem um termo de adesão, que trará as orientações normativas e de fiscalização”, ressaltou.

O procurador também criticou o fato de a MP prever a transferência de recursos da alienação para um fundo administrado pela União, sem considerar repasse a entidades locais. Em sua avaliação, a medida faria justiça se previsse a transferência de parte dos recursos aos municípios, além da transferência incondicionada de áreas que já estão no uso de domínio público, a exemplo de aterros construídos e mantidos pelos municípios.

Loteamentos

A secretária de Desenvolvimento de Santos (SP), Carla Guimarães Pupin, manifestou preocupação com loteamentos que dispensavam regularização fundiária, e cujos ocupantes poderão ter que pagar duas vezes pelos terrenos, sem o desconto de 25%, previsto na MP.

Estas aquisições se realizarem, pelo texto da MP, no prazo de 12 meses a partir da publicação de portaria ministerial que indicará os imóveis aptos a venda. Carla também disse não estar claro se a medida atinge os terrenos acrescidos de marinha, que se localizam no fundo dos estuários.

Redator: Rodrigo EneasEditor: Paula Aguiar
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