Os resultados obtidos pela Nova Zelândia na batalha contra o novo coronavírus se tornaram referência para todo o mundo. Com aproximadamente 5 milhões de habitantes, o país registrou até o momento apenas 1.515 casos de infecção e 22 vítimas fatais. O detalhamento das ações implementadas para conter o avanço da pandemia localmente foi abordado nesta terça-feira, 23, durante a 15º edição de encontros virtuais organizados pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para aproximar governantes locais.
As medidas foram apontadas pela prefeita de Hamilton, Paula Southgate, e pelo presidente da Associação de Governos Locais da Nova Zelândia e ex-prefeito de Dunedin City, Dave Cull. O diálogo foi complementado com a participação da prefeita de Palmas/TO, Cinthia Ribeiro; e do prefeito de Porto Alegre/RS, Nelson Marchezan Júnior.
Para os prefeitos neozelandeses, o sucesso alcançado no controle da pandemia só foi possível com a unificação das estratégias adotadas pelo governo central e municípios. “Acho que não teríamos tido sucesso na Nova Zelândia sem essa liderança local e central. Nós ficamos responsáveis por implementar os procedimentos que o governo determinava e isso foi a grande força da Nova Zelândia para vencer a pandemia”, avaliou a prefeita Paula Southgate.
Sem fronteiras terrestres, a Nova Zelândia priorizou o isolamento social rigoroso, a comunicação direta e eficaz com a população e a restrição de entrada de estrangeiros pelo acesso aéreo, além de determinar o cumprimento da quarentena de 14 dias para os cidadãos que decidiram voltar ao país. “O foco realmente se tornou em prevenir essa transmissão na comunidade, porque só poderia vir de fora”, complementa Dave Cull. Antes de relatarem as experiências, os prefeitos neozelandeses demonstraram solidariedade à situação brasileira, que já concentra mais de um 1,1 milhão de casos confirmados da doença e mais de 52 mil mortos.
O prefeito de Porto Alegre lamentou o fato de o Brasil ainda não ter conseguido consolidar uma política pública nacional para mitigar os efeitos da COVID-19. “O Brasil neste momento tem um cenário em que o governo federal tem uma certa negação à questão da pandemia e ele não traça grandes orientações, nem tem grandes políticas de apoio e estruturação técnica”, ponderou Nelson Marchezan Júnior.
Já a prefeita de Palmas, enfatizou que a falta de coesão em um momento que deveria contar com o envolvimento de todos tem agravado a situação dos governantes locais. “Nas crises de saúde, nas crises sanitárias, são os momentos em que as pessoas mais precisam do poder público. E, infelizmente, nós não podemos contar com essa liderança partindo da figura do presidente da República, deixando um cenário difícil para os governadores e prefeitos.”
Mesmo sem uma coordenação central, a atuação dos prefeitos brasileiros no combate à pandemia foi elogiada pelo presidente da Associação de Governos Locais da Nova Zelândia. "Nós tivemos sorte de ter um consenso e, infelizmente, vocês não tiveram isso no Brasil, mas eu os saúdo pelos esforços que claramente vocês fizeram, que foram bem além das responsabilidades normais como governo local, como prefeitos."
Apoio social e econômico
Os prefeitos da Nova Zelândia explicaram ainda que a atuação do país para atenuar as consequências da COVID-19 na vida da população incluíram ações de assistência social, com a distribuição de alimentos e a garantia de abrigos, e também iniciativas para reativar a economia e manter os empregos. Nesse sentido, Dave Cull acrescentou que o governo central investirá cerca de U$ 50 bilhões nos próximos anos para resguardar a situação financeira.
Em paralelo aos incentivos nacionais, Paula Southgate destacou que os municípios também articularam planos para fortalecer as economias locais. “A gente não ficou parado esperando o mundo voltar. A gente começou a planejar a nossa economia, planejar projetos que dariam empregos às pessoas.”
Cidades conectadas
Com o encontro realizado nesta terça-feira, a FNP registra a promoção de debates com representantes de países de todos os continentes. Além da Nova Zelândia, as discussões organizadas pela entidade já contemplaram as experiências da Itália, Argentina, Turquia, Portugal, Coreia do Sul, França, Espanha, Estados Unidos, México, Equador, Uruguai, China, África do Sul e Chile.