O Fórum Urbano Mundial, realizado este ano na Polônia, traz como tema a transformação das cidades para um futuro melhor
A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) participou do 11º Fórum Urbano Mundial, principal conferência global sobre urbanização sustentável, realizada em Katowice, na Polônia. Com o tema “Transformando as nossas cidades para um futuro urbano melhor”, o evento recebeu representantes e governantes do mundo inteiro, incluindo o Brasil, para debater temas como urbanização, mobilidade urbana, desenvolvimento econômico e mudanças climáticas.
Iniciativa entre FNP, Confederación de Fondos de Cooperación y Solidaridad (Confocos/Espanha) e Associazione Nazionale Comuni Italiani (ANCI/Itália) e cofinanciamento da União Europeia, o Projeto AcessoCidades promoveu um painel na conferência internacional. A especialista em Mobilidade Urbana do projeto, Tainá Bittencourt, mediou, nesta quarta-feira, 29, a conversa entre outros especialistas do setor, que compartilharam experiências sobre “Como tornar o transporte público verde e justo – enfrentando as mudanças climáticas e promovendo a acessibilidade por meio de políticas de tarifas de transporte público”.
O objetivo foi dialogar sobre diferentes práticas internacionais e contribuir para o amadurecimento de um modelo de financiamento que incorpore políticas tarifárias justas e sustentáveis. Foram levantadas questões como dificuldades para se ter um sistema de transporte público acessível, confiável e seguro. Um dos principais desafios enfrentados pelas cidades é como compatibilizar as agendas globais de redução das emissões globais e das desigualdades por meio de políticas públicas abrangentes e eficazes.
Segundo Tainá, “é preciso linkar a agenda climática de emissão de poluentes com a da desigualdade entendendo os contextos de cada local, especialmente no Brasil”. Dados revelados durante a discussão mostraram que, na América Latina, um terço da divisão modal é do transporte público, mas o sistema vem perdendo usuários, em um crescente desde a década de 1990. “Na Europa, essa divisão modal é menor, mas os países têm conseguido aumentar o número de usuários, com uma tendência de crescimento nas viagens por transporte coletivo”, disse a especialista.
Representando a Comissão Europeia, o chefe da unidade de Transporte Sustentável e Desenvolvimento Urbano na Bélgica, Paulo Cicarelli, destacou a importância da cooperação descentralizada e como escalar os investimentos, “com potencial para que eles retornem em coisas muito maiores”. Já o diretor de Cooperação Internacional da Área de Metropolitana de Barcelona (Espanha), Orion Illa, apresentou as ações realizadas na região. Ele garantiu que a região proíbe a circulação de carros altamente poluentes e antigos e oferece alternativas mais sustentáveis à população, como ciclovias e espaço de estacionamento para integração com outro transporte público, entre outros.
Pelo Brasil, Maria Cristina Molina Ladeira, diretora de Mobilidade Urbana de Porto Alegre/RS, mostrou que somente 25% dos usuários de transporte público da capital gaúcha possuem carro, o que demonstra, de acordo com ela, “a dependência dos cidadãos ao sistema de transporte”. Na opinião de Molina, “é importante que haja um investimento ao setor em nível nacional para promover, em especial, a inclusão”. Ana Wanzeler, chefe de gabinete de Relações Internacionais de São Paulo/SP, apresentou os esforços da capital paulista em converter a frota de ônibus, estimada em 12 mil carros, em veículos com baixa emissão, propondo eletrificação da frota e demonstrando compromisso com a Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU).
Guarulhos e Fortaleza
Nesta quarta, o prefeito de Guarulhos/SP, Guti, vice-presidente de Regiões Metropolitanas da FNP, participou do painel “O paradigma Unesco MIL Cities e a Agenda 2030: métricas para as cidades do futuro”. O prefeito apresentou a experiência de Guarulhos em educação, como o programa “Minha sala de leitura”, que assegura a alunos da educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos acesso a obras literárias em salas com wi-fi. “Entre 2018 e 2021, mais de 500 mil livros foram entregues aos alunos”, afirmou.
Outras ações mostradas foram os espaços de leitura em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), além de investimento em formação continuada e obrigatória de professores dos primeiros e segundos anos do ensino fundamental e conteúdo nas redes sociais com descrição em libras, entre outros.
Representando Fortaleza/CE, o vice-prefeito Elcio Batista falou, na terça-feira, 28, no painel “Diálogo 1: Futuros urbanos equitativos” sobre a estrutura interfederativa brasileira e a autonomia dos governos locais. “Apesar da destruição das políticas públicas a nível federal, há avanços com parcerias e cooperação internacional. Hoje, Fortaleza reflete os desafios globais no nível local em relação às desigualdades, emissões, concentração de renda etc.”, afirmou Batista.
Em sua apresentação, o vice-prefeito mostrou a experiência da capital cearense, tendo a população como foco das políticas públicas; participação e engajamento no planejamento das ações; prioridades bem definidas; e transformação institucional, cultural e digital, entre outros. Como proposições a partir do Fórum, Fortaleza elencou ações como aumentar a cooperação e a integração, rede global de agências de planejamento urbano, fundo de financiamento de cooperação técnica e fundo de inovação.