FNP participou do evento promovido pelo WRI Brasil nesta quinta, 5, que debateu como inserir a população no desenho das ruas nas cidades
Ruas mais generosas e com intervenções para torná-las cada vez mais completas para todos. Essa premissa foi o ponto de partida do webinar “Reimaginar o desenho das cidades: o papel das ruas completas”, promovido pelo WRI Brasil nesta quinta-feira, 5, de forma virtual. O secretário-executivo da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Gilberto Perre, contribuiu com o debate, que teve como destaque as ruas completas como indutores da mudança do paradigma do desenho urbano – dos carros para as pessoas.
O evento marcou o lançamento de um relatório do WRI Brasil, que mostra o impacto e os aprendizados de oito intervenções de ruas completas em Campinas, Curitiba, Juiz de Fora, Niterói, Porto Alegre, Salvador, São José dos Campos e São Paulo. Mesmo com dados coletados antes da pandemia, o relatório previu situações que podem melhorar os espaços e garantir que todas as pessoas se sintam seguras e confortáveis dentro das cidades. Veja aqui o relatório.
Para o secretário-executivo da FNP, a mobilidade urbana sempre foi um tema muito presente na rotina de prefeitas e prefeitos, mas está recebendo cada vez mais destaque – especialmente durante a pandemia. “Toda essa agenda, não só a do transporte, mas a de se preocupar em como se ocupam os espaços públicos, como taxar estacionamento, como lidar com aplicativos, como redesenhar o espaço urbano para ser mais acolhedor, tudo isso é uma agenda cada vez mais presente e que veio para ficar. E que bom! Agora, com a pandemia, isso vai ganhar ainda mais desdobramentos”, destacou.
Gilberto afirmou, ainda, que a pandemia trouxe aprendizados para os municípios. “Esse momento trouxe reflexões para nos aprofundarmos no redesenho das cidades, de sair desse modelo ‘carrocêntrico’. A FNP aposta no transporte de massa, por isso precisamos pensar em quais protocolos podemos implementar para minimizar aglomerações, diminuir riscos já pensando que essa pandemia pode não ser a última. E isso até mesmo com as casas, que podem passar por novos desenhos, agora que muitos trabalham nas residências”, comentou.
A gerente de Mobilidade Ativa do WRI Brasil, Paula Santos, iniciou sua fala relembrando os impactos para toda a sociedade por conta do isolamento, provocado pela pandemia. “E vocês podem perguntar o que isso tem a ver com ruas completas e eu digo que tem tudo a ver: a forma como as ruas estão projetadas podem ajudar muito as pessoas a serem mais resilientes.”
Toni Lindau, diretor do Programa de Cidades do WRI Brasil, lembrou que “as cidades querem ser mais interessantes para atrair negócios e para se desenvolverem.” Para ele, é preciso quebrar muitos paradigmas. “Ainda lidamos com visões antigas, como a de que os ônibus atrapalham o tráfego porque são lentos. E não é bem por aí.” Outro ponto levantado pelo diretor foi o fato de que a COVID-19 acentuou diferenças já existentes no país, especialmente nesse tema. “Se olharmos para as estatísticas, a pandemia atinge mais as periferias. Por isso, precisamos sair do conceito de ruas completas e ir para bairros completos.”
A coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTRANS, Eveline Trevisan, citou mais um paradigma a ser quebrado. “Muitos acham que é senso comum que as cidades não estão preparadas para mudanças, esse é um paradigma que precisamos quebrar. Uma vez que há uma proposta de mudança, uma vez que um olhar sob nossas ruas é colocado de forma mais aberta e democrática possível, qualquer mudança é possível.”
Paulo Guimarães, secretário de São José dos Campos/SP e presidente do Fórum Nacional de Secretários de Mobilidade Urbana, endossou o discurso e disse que “quando a gente traz a sociedade para um mesmo pensamento, conseguimos obter mais resultados.” Segundo ele, uma metodologia importante para manter ruas mais chamativas para todos é “pensar fora da caixa”, a partir de trocas de experiências.
“Quando temos uma situação inesperada, há a necessidade de criarmos caminhos e oportunidades. É preciso ter o olhar para fora da nossa caixa, a gente precisa se movimentar nessa direção de sempre estar se questionando, estar sempre incomodado e não acomodado. Para um melhor resultado, é necessário questionar processos, metodologias e resultados para poder extrair sempre o melhor possível”, citou.
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Os assuntos tratados neste texto estão localizados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 - Saúde e Qualidade; 10 - Redução das Desigualdades; 11 - Cidades e Comunidades Sustentáveis; 16 - Paz, Justiça e Instituições Eficazes; 17 - Parcerias e Meios de Implementação. Saiba mais aqui.