10/07/20

Prefeitos brasileiros e holandeses compartilham experiências no enfrentamento ao novo coronavírus


Debate foi durante videoconferência promovida pela Frente Nacional de Prefeitos


Experiências compartilhadas por governantes locais holandeses nesta sexta-feira, 10, durante a 16ª edição da live "FNP Conectando Cidades para enfrentar a COVID-19", reafirmam o quanto o Brasil ainda caminha a passos lentos no combate à pandemia do novo coronavírus. Em debate mediado pelo prefeito de Ribeirão Preto/SP, Duarte Nogueira, o prefeito de Fazenda Rio Grande/PR, Marcio Wozniack, o prefeito de Haarlem (Holanda), Jos Wienen, e o vice-prefeito de Den Bosch (Holanda), Ufuk Kâhya, destacaram as medidas que têm sido adotadas para conter o avanço da doença.

De acordo com os representantes holandeses, o país tem contado com uma aliada fundamental: a população. Seguindo o que eles chamam de “lockdown inteligente”, o governo nacional e as municipalidades atuam no sentido de conscientizar os cidadãos da importância do distanciamento social e das regras de segurança sanitária. “Para isso, contamos com uma articulação forte e uma cooperação muito próxima entre os governos e a população. E a opinião pública também tem sido muito importante”, explicou o prefeito de Haarlem, Jos Wienen.

Ainda segundo Wienen, a população entende e respeita a necessidade do cuidado com o vírus. “A população tem consciência de que o distanciamento é medida essencial de combate. Sabemos que 20% das pessoas acham que não é mais necessário se preocupar, que o perigo já passou, mas temos alertado ao risco de novos surtos e enfatizamos a responsabilidade de todos”, disse.

Apesar de polêmica, a decisão do governo de não impor o isolamento social, deixando a cargo da população a escolha de sair ou não às ruas, parece estar dando certo. Segundo dados oficiais, no dia 7 de julho, o país registrava 50.907 casos, um número bem abaixo da França e da Itália, por exemplo. ”Aqui na Holanda também podemos contar com o fato de as pessoas usarem mais a bicicleta. Então, a partir da pandemia elas usaram ainda menos o transporte coletivo”, considerou o vice-prefeito de Den Bosch, Ufuk Kâhya.

Para o prefeito de Fazenda Rio Grande, Marcio Wozniack, a desobediência civil que tem sido vista no Brasil é resultado da falta de articulação entre o governo federal e os governos locais. “Essa desconformidade nos discursos gera uma verdadeira confusão na população, sem contar nas fake news, em que são propagadas falsas curas e tratamentos que não têm a menor validade científica”, lamentou.

Na avaliação de Wozniack, o cenário da pandemia exige união. “É importante que todos estejam unidos nesse momento, e a população precisa estar ciente dos cuidados necessários. Como podemos ver aqui, as medidas tomadas são as mesmas, mas os resultados são bem diferentes”. No Paraná já foram registrados mais de 37 mil casos de COVID-19 e, segundo Wozniack, com o pico da doença previsto para o dia 19, 100% dos leitos de UTI devem ser ocupados.

Em Ribeirão Preto, segundo dados de 8 de julho, da prefeitura, dos 173 leitos de UTI exclusivos, 154 estão com pacientes, uma taxa de ocupação de 89%. “A pandemia impôs as mesmas privações em todo o mundo, o que muda é a etapa em cada país. Nós brasileiros estamos aprendendo muito com os europeus, tanto nos acertos quanto nos erros. Por isso é tão importante esse compartilhamento de experiências”, ressaltou Duarte Nogueira, prefeito do município paulista.

Impactos econômicos

Além do distanciamento social, os governantes locais holandeses e brasileiros também debateram a respeito da situação econômica das cidades no cenário da pandemia. Na Holanda, segundo destacou o prefeito Jos Wienen, o governo nacional lançou uma medida tanto para ajudar os pequenos negócios, que não tinham permissão para abrir, como para evitar o desemprego. "Os comerciantes tinham que garantir 90% dos salários dos empregados a partir de um subsídio do governo. Também foi lançada uma medida para os autônomos”.

Mesmo com as providências do governo e as promessas de mais verbas, os impactos econômicos são grandes. “Perdemos muito dinheiro e não temos recursos para ajudar o setor cultural, por exemplo. Se ele entrar em colapso, vamos ter que aportar com nossas reservas”, concluiu Jos Wienen.

As dificuldades foram compartilhadas pelo vice-prefeito de Den Bosch, Ufuk Kâhya. “A primeira compensação que recebemos já foi comprometida e não é suficiente para as municipalidades. O impacto econômico foi enorme”.

Redator: Bruna LimaEditor: Livia Palmieri
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