Enquanto o número de casos e de mortes provocados pelo novo coronavírus segue crescendo na América Latina, o Uruguai, em especial, tem chamado a atenção do mundo pelo sucesso alcançado no combate ao vírus. Até o momento, o país registrou 848 pessoas infectadas e apenas 23 óbitos, segundo os dados da Universidade Johns Hopkins. Já o Brasil, por outro lado, ganha cada vez mais repercussão mundial pelo avanço significativo da pandemia – já somamos mais de 867 mil casos e 43.332 mortes, o segundo pior desempenho em todo o mundo.
Para os prefeitos uruguaios, a boa atuação do país está fundamentada na adoção de medidas de contenção rápidas e integradas entre os entes e também na responsabilidade cidadã, que foi amplamente incentivada pelos governos central e locais. A avaliação foi compartilhada nesta segunda-feira, 15, durante uma live realizada pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), com a prefeita do departamento de Rivera, Alma Galup, e os prefeitos do departamento de Canelones, Tabaré Costa; de Foz do Iguaçu/PR, Chico Brasileiro; e de Uruguaiana/RS, Ronnie Mello, além do secretário-geral de Governo de Canelones, Francisco Pedro Legnani Silva.
Mesmo com a baixa densidade demográfica do Uruguai, que concentra cerca de 3,4 milhões de habitantes, Alma Galup acredita que as ações direcionadas nacionalmente foram essenciais para garantir o baixo índice de contágio e de letalidade. Nesse processo, a prefeita lembrou que o presidente do país, Lacalle Pou, teve poucos dias para implementar as decisões, isso porque o governante tomou posse em 1º de março e no dia 13 do mesmo mês houve o relato dos primeiros casos da doença. “O novo governo acionou os mecanismos de reação com muta rapidez, isso por meio da tomada de decisão em um nível nacional de consenso que foi criado.”
Os prefeitos uruguaios relataram ainda que uma das estratégias do plano nacional de combate ao vírus incluiu o reforço do sistema de saúde do país com o uso da telemedicina e de centrais telefônicas, que passaram a monitorar e orientar as pessoas no isolamento social.
Para amenizar os impactos sociais e econômicos na vida da população, o prefeito de Canelones informou que a cidade adotou a distribuição de alimentação básica e a liberação de pagamentos tributários para as pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Sabemos que a crise sanitária traz sempre uma crise socioeconômica. Ou seja, traz problemas para a produção nacional, uma vez que a grande maioria da nossa produção teve que parar. Com isso, obviamente, a conta recai nos mais vulneráveis”, avaliou Tabaré Costa.
No entendimento do prefeito, apenas com coesão das ações públicas será possível prosseguir com o desenvolvimento adequado. “O alinhamento em todas as ações e a coordenação dentro de todas os setores são premissas básicas para conseguirmos avançar e enfrentar tudo isso.”
O mediador do debate, Chico Brasileiro, pontuou que a unidade praticada no país vizinho não foi aplicada no Brasil. “Nós sofremos muito por essa falta de sintonia nos níveis de governo. Praticamente, os estados e municípios, com suas autonomias, assumiram esse papel com algumas diferenças em relação, principalmente, ao isolamento social”, acrescentou.
Em Uruguaiana, o prefeito Ronnie Mello revelou que, a partir da experiência vivida pelo município em 2009 com a crise provocada pela H1N1, a cidade decidiu se adiantar e realizar o próprio plano de atuação.
Entre as medidas incorporadas para conter a disseminação de COVID-19, a prefeitura contratou um infectologista para capacitar os profissionais de saúde, criou três centros de triagem para atender a população e investiu na estruturação de leitos e na realização de teste. “A gente tomou a frente, não esperou, com todo respeito ao governo federal e ao nosso governo do estado. A gente agiu, se antecipou e hoje acredito que estamos preparados para enfrentar o frio rigoroso do Rio Grande do Sul.”
Para o secretário-geral de Governo de Canelones, a integração entre as ações das cidades de um mesmo país e as que fazem fronteiras, como é o caso de municípios do Brasil e Uruguai, poderá ser a chave para enfrentar a pandemia com mais eficiência. “É importante observar o comportamento do vírus, fazer um verdadeiro mapeamento de como ele se comporta, para que tenhamos como dar respostas mais precisas. Por isso, destaco a importância de estarmos alinhados como região para o verdadeiro enfrentamento do vírus”, concluiu.