A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta semana que a América do Sul ainda não atingiu o pico da pandemia de COVID-19. Nesse cenário, Brasil e Chile têm se destacado entre os países com o maior índice de propagação do vírus. O Chile, por exemplo, obteve um aumento superior a 500% no número de casos, além de um crescimento de 375% nos óbitos, entre os meses de maio e junho. Já o Brasil se firmou no ranking mundial como a segunda nação com mais pessoas infectadas, 614.941 casos, e a terceira com o maior número de mortes, mais de 34 mil. O desempenho dos dois países foi analisado nesta sexta-feira, 5, durante uma live organizada pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP).
O encontro virtual reuniu a prefeita de Rio Branco/AC, Socorro Neri; o prefeito de Araraquara/SP, Edinho Silva; o prefeito chileno de La Granja, Felipe Delpin; e o secretário-executivo da Associação Chilena de Municípios, Jaime Belmar.
Ao iniciar o debate, Socorro Neri destacou os esforços realizados pelos municípios para proteger a população e amenizar os impactos do novo coronavírus. "Este momento em que estamos vivendo preocupa a todos nós e tem nos impelido a tomada de decisões, buscando fazer o melhor por nossa gente."
Na opinião de Edinho, a crescente escalada no número de infectados e de mortos no Brasil evidencia a falta de articulação entre o governo federal e os entes. “Penso que a América do Sul toda tem acompanhado, o mundo tem acompanhado, o grande embate político que o Brasil vive neste momento. E esse embate reflete também na organização das políticas públicas de enfrentamento ao coronavírus”, destacou o prefeito, em referência das diretrizes estabelecidas pelos governadores e prefeitos, sobretudo no que diz respeito ao isolamento social, que são desautorizadas pelo presidente da República.
O prefeito afirmou ainda que o país caminha “firmemente” para ser a segunda nação com o maior número de letalidade do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Para Edinho, o Brasil só não ultrapassará os Estados Unidos porque o país norte-americano não possui um sistema público de saúde.
Por outro lado, segundo o prefeito, o fato de o Brasil ter implementado o Sistema Único de Saúde (SUS) representaria, em teoria, uma estrutura com alta capacidade de enfrentamento à doença em todo o território nacional, o que não é visto na prática. De acordo com Edinho, o sistema não funciona em sua competência máxima devido ao financiamento tripartite, que tem sobrecarregado os municípios. "Mesmo tendo essa gestão tripartite, na maior parte das vezes, é o município o ente que arca com o maior custeio do sistema de saúde."
Situação parecida tem vivido o Chile. Segundo o prefeito de La Granja, mesmo robusto, o sistema de saúde pública das cidades também não foi priorizado nas medidas de enfrentamento ao novo coronavírus. “A coordenação nacional entre os entes federativos não tem sido fácil. Temos no Chile uma rede de saúde municipal poderosa, uma rede do sistema de saúde primária com presença em todo o país, com centros de saúde em cada município, em cada local. E essa rede está desaproveitada pelo governo federal, em relação às estratégias de enfrentamento à COVID-19.”
Felipe Delpin, que também é vice-presidente da Associação Chilena de Municípios, explicou que o país, mesmo registrando números muito menores que o Brasil - cerca de 122 mil casos de infectados e 1,4 mil mortes -, apresenta uma taxa de contágio proporcionalmente maior, quando comparado ao número de habitantes.
Com o avanço da pandemia no país, o prefeito espera que a articulação com o governo central seja intensificada. “O que nós esperamos agora é que haja uma mudança, uma valorização no que os municípios podem fazer nesse enfretamento. Então, a partir de agora, os municípios assumirão a responsabilidade da rastreabilidade dos casos de contágio e do controle também. Isso já havia sendo feito pelos municípios de forma isolada e independente, mas não havia uma coordenação nacional.”
Em sua fala, Jaime Belmar agradeceu a oportunidade de debater a situação com os prefeitos brasileiros e desejou a realização de mais reuniões com essa. “Esperamos que esse encontro não seja o único. A situação que vivemos é muito severa, mas que possamos não estar isolados um dos outros”.
Redator: Roberta Paola
Editor: Lívia Palmieri