04/06/20

Governantes brasileiros e chineses detalham medidas de enfrentamento adotadas para conter a COVID-19

Berço da pandemia do novo coronavírus, a China adotou o isolamento rigoroso de cidades como uma das principais estratégias para conter a disseminação da doença. Nas regiões com maior incidência de pessoas infectadas, como em Wuhan, foco inicial da contaminação, as medidas restritivas foram implementadas por mais de dois meses. Os impactos dessa ação e os desafios para a retomada das atividades presenciais foram apresentadas por governantes do país asiático durante um encontro virtual organizado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), nesta quarta-feira, 3.

O detalhamento das informações foi mostrado pela vice-prefeita de Fuzhou, Li Chun; pelo vice-prefeito de Yangzhou, Yu Ting; pelo vice-presidente do Hospital Jin Yin Tan em Wuhan, Huang Chaolin; e pelo diretor-geral do Departamento dos Assuntos Americanos e Oceânicos da Associação de Amizade do Povo Chinês, Shen Xin. O intercâmbio de vivências foi moderado pelo prefeito de Aparecida de Goiânia (GO), Gustavo Mendanha, e contou ainda com a participação do vice-prefeito de São Luís (MA), Júlio Pinheiro.

Ao iniciar o debate, Shen Xin salientou como o conhecimento adquirido pelo país pode contribuir com a gestão de outras nações. “Atualmente, todos os países estão enfrentando desafios severos por causa do alastramento da COVID-19. A China usou menos de três meses para conter e conseguimos acumular muitas experiências”.

Em Yangzhou, o vice-prefeito explicou que o controle da disseminação do vírus foi a ação priorizada pela cidade. Segundo o gestor, os esforços geraram resultados positivos, já que o município está há mais de cem dias consecutivos sem registrar nenhum caso de contágio interno ou importado. “Desde o início da covid-19, o município de Yangzhou tem tratado o controle de epidemiologia como a tarefa mais importante e trabalhado de acordo com os requisitos de confiança, unidade e abordagem precisa, baseada em ciência”.

Yu Ting relatou que os mecanismos ativados para mitigar a disseminação do vírus incluíram, entre outas medidas, a mobilização de funcionários públicos e voluntários para o acompanhamento e conscientização da sociedade, o uso de metadados para monitorar o deslocamento das pessoas e o controle de estradas.

A experiência alcançada na identificação e cuidados dos pacientes também foi compartilhada por Huang Chaolin. Segundo o administrador, em um curto espaço de tempo, Wuhan conseguiu construir 16 hospitais de campanha e dois hospitais especializados, com aproximadamente mil leitos. O plano de contenção da doença garantiu também a adesão de outros 55 hospitais e a transformação de 530 hotéis em espaços de isolamento social, intervenção que permitiu a oferta de mais de cem mil leitos para a população. Segundo Chaolin, a mobilização foi possível porque a cidade priorizou as pessoas. “Desde o início da covid-19, o município de Wuhan tem insistido em colocar a vida do povo em primeiro lugar”, afirmou.

Para Júlio Pinheiro, a fase mais dramática para os brasileiros tem sido o processo de recuperação da economia, que já passava por uma crise antes da pandemia. Na avaliação do vice-prefeito, os impactos poderiam ser minimizados se houvesse coesão entre as ações implementadas pelos entes. “A retomada é o nosso desafio no Brasil. É preciso um reforço do governo federal, que tem tomado postura e medidas na contramão disso, na nossa avaliação. Os prefeitos e governadores estão em um esforço muito peculiar para garantir o combate à pandemia.”

A conjuntura financeira também foi lembrada pelo prefeito de Aparecida de Goiânia. Segundo Mendanha, os esforços realizados na cidade são conduzidos para equilibrar a saúde e a economia. “A gente passa algumas dificuldades e temos tentado ter uma visão sobre a saúde das pessoas, mas também sobre a saúde econômica da população.”

Para assegurar essa estabilidade, o prefeito relatou que a cidade tem implementado um escalonamento regional para a reabertura do comércio. “A cidade é dividida em dez macrorregiões e a cada dia da semana nós estamos fechando duas localidades. Ao mesmo tempo, estamos aumentando a taxa de isolamento dessas regiões e permitindo um funcionamento com a flexibilização responsável em outras”, complementou.

Cooperação entres os países

Durante a reunião, Júlio Pinheiro ressaltou colaboração recebida pela cidade de Wuhan, que atendeu uma solicitação de São Luís e enviou equipamentos de proteção individual (EPIs) para fortalecer o trabalho dos profissionais de saúde da cidade durante a crise do novo coronavírus.

“Fomos a primeira cidade da América Latina a que Wuhan, de forma muito tranquila e ao mesmo tempo com muita disposição, atendeu esse pedido. A gente agradece em nome do prefeito Edivaldo Holanda e do governador do estado, porque isso vai ajudar muito no enfrentamento à pandemia.”

Na avaliação da vice-prefeita Li Chun, a cooperação reflete o empenho dos países no combate à pandemia e deve ser mantida, mesmo depois da superação da crise. “As realidades do Brasil e da China são diferentes, mas na área de enfrentamento ao novo coronavírus e gestão das cidades nós temos muito pontos em comum. Nesse contexto de covid-19, a cooperação econômica e comercial entre a China e o Brasil também está sendo afetada, mas isso para nós é também uma oportunidade. Portanto, quero que continuemos a aprofundar nossa amizade e cooperação, não só no enfretamento conjunto contra a covid-19, mas também no sentido de intercâmbio e cooperação.”

A íntegra do encontro, com tradução consecutiva, pode ser assistida no canal TV FNP, no Youtube.

Mais nesta categoria: