Na semana em que o Brasil ultrapassou a Espanha no número de casos de pessoas contaminadas com o novo coronavírus, prefeitos brasileiros tiveram a oportunidade de debater os efeitos da crise diretamente com governantes do país europeu. O encontro foi viabilizado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), nesta sexta-feira, 22, por meio de uma live transmitida ao vivo na Fanpage da entidade.

Durante a reunião, a prefeita de Sabadell, localizada na província de Barcelona, Marta Farrés, e o prefeito de Fuenlabrada, na província de Madrid, Javier Ayala, foram enfáticos ao afirmar que o foco prioritário dos governantes deve ser na emergência de saúde pública, cerne que não pode ser perdido nas disputas políticas ou financeiras. O encontro contou também com a participação do prefeito de Cariacica/ES, Juninho, e do prefeito de Feira de Santana/BA, Colbert Martins.

Ayala, que também é presidente da Comissão de Relações Internacionais da Federação Espanhola de Municípios e Províncias (FEMP), ressaltou que o tema exige respeito e que uma “atitude equivocada pode ter consequências desastrosas”. Especificamente sobre a situação do Brasil, o prefeito espanhol se disse surpreso com a postura adotada pelo governo federal e enviou um conselho ao presidente Jair Bolsonaro. "Nós tivemos situações de posições políticas contrárias, mas o que posso dizer para vocês é que está aí o exemplo de Boris Johnson, na Inglaterra. É um bom exemplo para Bolsonaro, que ele deixe dessa bobeira de ficar dando ênfase à parte econômica. O momento atual é de salvar vidas, essa é a ênfase. Deixa a reconstrução econômica para acontecer no seu momento”.

Já Marta Farrés classificou o dilema entre salvar vidas ou a economia como imoral. "A economia não pode estar sobre as vidas humanas. Isso é imoral. Não é contraditório você supor que as vidas humanas sejam mais importantes. O vírus não conhece fronteiras. Então, se você adota medidas, mas o município ao lado não, o seu município vai se ver afetado, porque o vírus não entende que existe essa fronteira. É preciso, sim, uma ação conjunta e coletiva entre todos", enfatizou Marta.

Os prefeitos espanhóis explicaram ainda que as ações de enfrentamentos à covid-19 no país europeu foram norteadas por um plano de contingenciamento nacional, que adotou critérios científicos. Já as situações estratégicas para cada localidade, como a capacidade de suprimento e as orientações para limpeza de espaços públicos, foram definidas pelos comitês de crises instituídos pelos próprios municípios.

Em Cariacica, as decisões também foram tomadas por um comitê local, que tem atuado em consonância com as diretrizes estaduais. O prefeito Juninho pontuou que a cidade não possui nenhuma UTI ou hospital público para atender os quase 400 mil habitantes e, por isso, tem investido nas medidas sanitárias de prevenção.

“Estamos em um aglomerado de grandes cidades do Espírito Santo, porque nós somos a terceira maior cidade do estado das quatro que integram a região metropolitana. E, mesmo assim, nós somos a cidade com o menor número de casos confirmados, mesmo ampliando os testes. A gente consegue manter um controle diferenciado das cidades, por enquanto”.

Médico epidemiologista, o prefeito de Feira de Santana informou que a atuação do município tem sido para controlar a curva de crescimento da doença e, assim, garantir a oferta de UTIs e leitos clínicos para as internações necessárias.  Com 620 mil habitantes, a cidade tem atualmente 4 óbitos e 271 casos confirmados, sendo 28% de profissionais de saúde, informou o prefeito.

Segundo Colbert, a situação geográfica da cidade, que concentra um fluxo intenso de transportes rodoviários para as regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, tem sido a principal porta de entrada do vírus. Outra questão preocupante para o gestor é a proximidade do município com a capital do estado, Salvador. “A nossa distância para capital é de 108 quilômetros. Como Salvador, que tem 3 milhões de habitantes, está com um nível alto de ocupação de todos os leitos para covid-19, neste momento, o risco se torna maior, porque Feira de Santana é a segunda cidade da Bahia com mais profissionais para operar esses leitos”.

Retomada das atividades

Depois de 48 dias de quarentena rígida, a Espanha iniciou o processo de retomada gradual das atividades no início deste mês. “Em termos de economia, ainda não temos a dimensão do que isso será no futuro. Temos uma intuição em relação ao que vai acontecer, então a estratégia que temos adotado no nosso município é um plano de reconstrução, a partir dos próprios agentes sociais locais, e isso envolve os sindicatos, os empresários, as universidades, associações, todos eles envolvidos nesse plano”, explicou Javier.

Em Sabadell, o plano de reativação econômica contará também com um olhar diferenciado para a proteção dos mais vulneráveis, declarou a prefeita. A inciativa terá ainda a participação dos governos locais, do governo nacional e também de um fundo de cooperação da União Europeia.

“Essa crise é significativa e precisa de ações significativas de enfrentamento, porque é a maior crise já vivida na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial. Nós, como prefeitas e prefeitos, somos a parte governamental que está próxima à população”, considerou Marta.

Redator: Roberta Paola

Editor: Bruna Lima