29/04/20

Isolamento social é citado por argentinos como medida mais efetiva de contenção à propagação do coronavírus

Em conversa virtual, prefeitos dos dois países trocaram experiências sobre crise na saúde; representantes argentinos contaram o que tem dado certo em meio à pandemia 

As perspectivas econômicas e sociais diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus foram tema de um debate virtual entre prefeitos brasileiros e argentinos, nesta quarta-feira, 29. O encontro serviu para que os dois países compartilhassem experiências na gestão e reuniu os prefeitos de Florianópolis/SC, Gean Loureiro, de Pelotas/RS, Paula Mascarenhas, e os argentinos de Rosário, Pablo Javkin; de Berisso, Fabian Cagliardi; e de Chascomús, Javier Gastón.  

O papel do sistema público de saúde e da iniciativa privada no combate à doença foi destaque na conversa. Em Florianópolis, Loureiro destacou os cuidados com a saúde básica da população e os testes rápidos para a covid-19, que começaram a ser realizados recentemente. “A cidade já fez mais de quatro mil testes”, relatou.

Ele confirmou que a cidade já está começando a flexibilização das atividades, mas elogiou o isolamento precoce dos catarinenses. “No começo, muitos não entenderam o que estava acontecendo, mas essa atitude rápida fez com que Florianópolis e os municípios do entorno controlassem a doença ainda na fase inicial”, disse. Até o momento, a capital tem 44 mortes e 1,4 mil casos confirmados.

Paula Mascarenhas ressaltou que muitos municípios estão à deriva nessa batalha, já que a postura do presidente Jair Bolsonaro é contrária ao isolamento social. “Estados e municípios estão com responsabilidade redobrada. Temos em nossos ombros um peso enorme, pois temos que tomar decisões de forma isolada sobre como atuar em meio à pandemia”, lamentou.

Paula destacou, ainda, o forte investimento em todos os níveis de complexidade da saúde no município e que cuidar da população é o que mais importa nesse momento. “Estamos preocupados com as questões econômicas e sociais, claro, mas nos parece que o momento é de enfrentar a questão sanitária para depois encontrar as outras soluções.” Até o momento, Pelotas tem 20 casos confirmados, mas Mascarenhas admitiu que o nível de testagem no local ainda é baixo.

Coronavírus na Argentina

A Argentina registrou a primeira morte pela covid-19 no dia 7 de março – no Brasil, o primeiro registro só veio dez dias depois. A diferença é que o país hermano tem 207 mortes registradas até agora, enquanto o número no Brasil ultrapassa 5,1 mil. O prefeito de Berisso atribuiu o baixo número de óbitos ao isolamento social, iniciado em março e prorrogado, até o momento, para 10 de maio. “O isolamento social fez a diferença”, ressaltou Fabian Cagliardi. A província teve apenas três casos positivos.

Em Rosário, o prefeito Pablo Javkin explicou que os sistemas municipal e nacional funcionam bem e em parceria. O isolamento social também salvou muitas vidas por lá – nenhum caso grave foi notificado no município. “Tivemos resultados positivos por adotar o isolamento logo no início, isso certamente controlou muito o número de casos, mas creio que a letalidade está também muito associada ao sistema sanitário”, disse.

A situação de Chascomús é semelhante aos dos vizinhos argentinos. Nenhum caso da doença foi registrado na cidade e o prefeito garantiu na conversa que estão investindo em capacitação dos profissionais da saúde e preparando a cidade para receber possíveis casos.

No Brasil, Bolsonaro defende o retorno das atividades, alegando impacto na economia. Em São Paulo, considerado epicentro da doença, já houve registro de queda na adesão à quarentena. Na última semana de março, a taxa era de 56%. Um mês depois, o estado registrava 52%, de acordo com dados do Sistema de Monitoramento Inteligente (Simi-SP).

Nas cidades com mais de 80 mil habitantes, já são 62 mil casos positivos da doença. Desses, 47,3 mil estão em municípios com população superior a 500 mil habitantes. O impacto nos cofres municipais com a pandemia já é de R$ 30,7 bilhões, segundo levantamento feito pela FNP com dados publicados até 28 de abril.

Megafone

O prefeito Pablo Javkin protagonizou um episódio inusitado no início de abril. Com um megafone na mão, Javkin dirigiu-se a um grupo de pessoas que se aglomeravam em uma fila para receber ajuda da Emergency Family Income e suplicou: “não vamos perder tudo o que realizamos até hoje.”

Essa foi uma tentativa de acalmar os ânimos da população de Rosário, que lotou instituições financeiras para tentar obter ajuda financeira em meio à pandemia. Nesse dia, o prefeito estendeu o horário de atendimento dos bancos e pediu aos que estavam nas filas que tentassem manter uma distância segura entre eles.

 Durante a live dessa quarta, o prefeito aproveitou o momento para deixar um recado aos brasileiros. “Resistam à pressão e não tenham medo de adotar medidas duras de isolamento.”

 

Redator: Jalila Arabi

Editor: Bruna Lima

Mais nesta categoria: