09/04/20

Associações de governos locais afirmam que é preciso observar e aprender com erros para evitar avanço do novo coronavírus

Em reunião virtual nesta quinta, 9, lideranças de diversos países discutiram desafios e experiências no enfrentamento à doença

O novo coronavírus tem provocado mudanças em todo o mundo. Com a crise, surgiram desafios e aprendizados ao redor do globo que precisam ser conhecidos, para que erros cometidos no início não sejam repetidos neste momento. A conclusão surgiu durante uma sessão temática, nesta quinta-feira, 9, comandada pelas entidades Cidades e Governos Locais Unidos (UCLG, em sua sigla em inglês), Metropolis e Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UM-Habitat), com a participação de associações de governos locais.

Em uma das mesas redondas, os representantes do Brasil, Espanha, África do Sul e Filipinas relataram os principais desafios durante a pandemia do novo coronavírus. No país espanhol, foram confirmados, até o momento, mais de 146 mil casos da doença e um dos desafios relatados foi o de fortalecer o setor público para prevenir futuras pandemias e crises.  

Na África do Sul, os esforços têm sido voltados para a população de rua e para conseguir equipamentos de proteção individual (EPI’s). Para enfrentar o momento, os municípios locais têm contado com a ajuda da iniciativa privada. O representante sul-africano relatou dificuldades também com a comunicação, que ainda não tem chegado de forma efetiva em locais mais remotos e sem tecnologia.

A dificuldade com os suprimentos de proteção individual parece ser um problema geral. Nas Filipinas, além da problemática em levar os equipamentos de um lugar para outro, há ainda a preocupação com a população mais vulnerável e uma política de comunicação mais efetiva que reforce a importância do isolamento social.

Já no Brasil, os entraves são as informações desencontradas e a falta de sintonia do governo federal em relação às medidas a serem tomadas, além da carência de EPI’s. De acordo com os últimos dados compilados das secretarias de Saúde estaduais, as grandes cidades já têm quase 16 mil casos confirmados da doença. Em municípios com mais de 80 mil habitantes, o número chega a 11,9 mil.

Para o coordenador de Relações Internacionais da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Paulo Oliveira, algumas respostas para a crise estão em uma maior articulação do Congresso Nacional para aprovar medidas contra o colapso das contas públicas e um diálogo mais amplo entre prefeitos de grandes cidades com autoridades locais de outros países.

“Infelizmente, ainda há uma descoordenação do governo federal com os municípios. Temos boas experiências nas prefeituras e em todo o mundo, mas não temos apoio do presidente para executá-las”, criticou o representante da FNP.

Ele alertou sobre o Brasil ser o único país a desencorajar o isolamento durante a pandemia. “Não há razão para repetir os erros já cometidos. Por que não aprender com os demais países?”, questiona Paulo.

Na noite dessa quarta, 8, Jair Bolsonaro afirmou novamente que desaprova a postura de governos e prefeituras no enfrentamento ao novo coronavírus. Em pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, disse que, apesar de respeitar a autonomia dos governadores e prefeitos, distancia-se e opõe-se quando afirma que “muitas medidas de forma restritiva, ou não, são de responsabilidade exclusiva dos mesmos; o governo federal não foi consultado sobre sua amplitude e duração”.

Em nota oficial, a FNP repudiou as declarações do presidente, destacando que elas “além de lamentáveis, porque tentam eximir o presidente de suas atribuições de chefe de Estado, autoridade que tem como dever zelar pela harmonia da federação, também não são verdadeiras. No dia 27 de março, a FNP encaminhou o ofício 197/2020, questionando se havia nova orientação do governo federal no combate à COVID-19. Como não recebeu resposta, reiterou as perguntas em 30 de março no ofício 213/2020. Para esses questionamentos, até o momento, não houve qualquer retorno”.

Enfrentamento

No encontro virtual, as lideranças municipais responderam alguns questionamentos sobre os problemas gerados pela pandemia. Entre eles, qual seria o papel mais importante de cada associação durante o gerenciamento de crises. Em primeiro lugar, veio a informação qualificada, seguida de políticas de defesa, apoio na colaboração para prestação de serviços e maior sensibilização e solidariedade.

Outro questionamento foi em como a crise afetou as relações governamentais – a maioria relatou como sendo positiva. As associações responderam também, quase que de forma unânime, que a covid-19 afetou o trabalho delas. E afirmaram que a colaboração internacional no enfrentamento da doença é “muito importante”.

 

Texto: Jalila Arabi

Edição: Bruna Lima

 

Última modificação em Quinta, 09 de Abril de 2020, 13:45
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