Planos de governo isentos de ações e estratégias que fortaleçam a comunicação e garantam a participação social nas decisões das políticas públicas das cidades brasileiras foram apontados como deficientes pela professora da Universidade de São Paulo Mariângela Haswani, durante o webinário "A participação efetiva da sociedade na administração pública", realizado na manhã de terça-feira (04/06), dentro do projeto Tendências para as Cidades.
Pesquisadora em Comunicação Pública Governamental da USP, Haswani alertou que a grande maioria dos candidatos a prefeito(a) não fala de comunicação em seus planos de governo. "Propaganda é promoção. O gestor público precisa aprender a conversar com a sociedade e prestar contas dos serviços que oferece, como estão disponíveis e de que maneira os cidadãos podem acessá-los".
Haswani pontuou ainda que há um desafio claro de como utilizar os meios para promover o diálogo com a sociedade e lembrou que "a base da pirâmide eleitoral não acessa a internet", ao afirmar que nem todos visitam sites ou redes sociais.
"Os prefeitos têm a obrigação de falar com a sociedade, por isso um plano de governo deve conter essa informação sobre como será feito esse diálogo e não apenas postar em redes sociais ou criar conselhos onde algumas pessoas são chamadas a participar".
Nessa linha, o ex-professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) Valdemir Pires alertou que os conselhos que acompanham políticas públicas não podem ser compostos apenas por pessoas próximas aos governos, para que atuem com mera formalidade.
"Eu recomendo que os gestores públicos adotem práticas de diálogos verdadeiramente democráticas. É preciso olhar para as cidades e desenvolver estratégias que possam atrair a organização e a participação das pessoas nas administrações. Ou seja, a participação deve ser uma política do governo municipal".
Para o professor da Universidade de Coimbra, o urbanista Giovanni Allegretti, os formuladores de planos de governo devem compreender que a participação da sociedade "é algo concreto e que precisa ir além da retórica".
Allegretti alertou ainda que é preciso escutar a população das cidades. "Sou urbanista e para atuar nas cidades é preciso ouvir aqueles que vivem nos territórios".
Ele reforçou a proposta ao falar das cidades atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, dizendo que "a participação serve como instrumento de reconstrução" em casos de pós-catástrofes. "Ouvir serve para definir as prioridades", ressaltou.
Este debate e todos os episódios já realizados pelo "Tendências para as Cidades" estarão disponíveis no canal do YouTube da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos.