25/03/22

Inclusão e sustentabilidade na mobilidade urbana foram destaque no último dia de Smart City

Discussão sobre equidade de gênero e futuro da mobilidade urbana no Brasil e no mundo nortearam as discussões da FNP nessa sexta-feira, 25, em Curitiba

Que cidades e metrópoles queremos ter? Foi com essa indagação que a chefe de Cooperação Internacional da Área Metropolitana de Barcelona (AMB), Maria Peix, abriu o painel “Mobilidade urbana sob a perspectiva de gênero”, em Curitiba/PR. O debate foi organizado pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), em parceria com a Confederación de Fondos de Cooperación y Solidaridad (Confocos/Espanha) e Associazione Nazionale Comuni Italiani (ANCI/Itália) e cofinanciamento da União Europeia, por meio do Projeto AcessoCidades.

A discussão priorizou políticas e perspectivas para uma mobilidade mais inclusiva, levando em conta que as pessoas e as necessidades de cada um são diferentes, e se deu dentro da programação do Smart City Expo Curitiba, edição brasileira da maior rede mundial de eventos ligados ao tema de cidades inteligentes.

Maria Peix considerou que os espaços, sejam aqui ou em outros países, não são neutros. “Nem a experiência, nem o uso, nem a construção. São pessoas diferentes usando os espaços públicos de formas diferentes e é preciso ter atenção a isso” alertou. Ela lembrou que homens, mulheres, crianças, idosos, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, todos usam esses espaços. “Importante ter isso em mente para propor estratégias e políticas adequadas.”

Entre os desafios citados pela representante da AMB, está a construção de um espaço público que garanta acesso a todos, priorizando a equidade de gênero. “Hoje as políticas são pensadas como se todos fossem usar espaços e transportes da mesma forma, mas não é assim. Quando coletamos dados sobre mobilidade, percebemos que as mulheres utilizam muito mais os meios de transporte público do que os homens, mas quem faz a gestão dos meios são os homens”, constatou.

Segundo Peix, mulheres fazem mais trajetos dentro de ônibus do que homens, além de serem mais suscetíveis à violência e ao assédio nesses modais. “Pensar em bilhetagem integrada e iluminação pública em paradas e nas ruas, por exemplo, são uma forma de se ter essa percepção de gênero. Incluir essa perspectiva na mobilidade significa reconhecer que a maneira de utilizar a cidade e os espaços são diversos, por isso devemos pensar em inclusão de uma forma geral”, observou.

Outro ponto levantado pela especialista foi a inserção de mulheres na gestão das políticas de mobilidade urbana. Ela acrescentou que, ao fazer isso, é preciso levar em consideração a diversidade: mulheres jovens, idosas, crianças, com e sem filhos, com e sem formação, periféricas, negras, com diferentes capacidades e realidades socioeconômicas. “O processo é devagar, precisamos aprender a incorporar elementos concretos para isso e ver mais mulheres ocupando espaços de decisões”, concluiu.

Futuro da mobilidade

No painel “Como as cidades podem liderar a mudança para modelos de transporte - mobilidade inteligente para o futuro”, o prefeito de Nigran, em Pontevedra (Espanha), Juan González Pérez, compartilhou as experiências de incentivo para uma cidade com menos carros individuais nas ruas. “Temos que pensar numa mobilidade com as pessoas sempre em primeiro lugar”, disse.

Os ônibus de Nigran, segundo Pérez, são acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida, crianças e idosos, e o uso de bicicleta é incentivado até mesmo nos centros urbanos e escolas. “Construímos espaços mais seguros nas escolas para incentivar a caminhada e o uso de bicicletas, para que pais e mães se sintam seguros e confortáveis com esse modal. Incentivamos também as caminhadas, para que os carros não sejam o único meio de locomoção. Queremos que todos sejam incluídos”, afirmou.

Outra medida do municio espanhol, visando uma mobilidade sustentável, é o uso de veículos elétricos. “Temos várias estações de carga gratuitas para os motoristas e quem adquire um carro elétrico está isento de impostos. Não podemos falar para o cidadão ter um veículo assim se não oferecemos facilidades”, concluiu.

Side events

Na quinta-feira, 24, o projeto também discutiu, durante o Smart City, temas como dados abertos e o futuro da mobilidade urbana. Josep Maria Garcia, diretor de Planejamento da Área Metropolitana de Barcelona (Espanha), compartilhou como dados abertos podem ajudar no avanço de políticas públicas para o setor de maneira mais sustentável nas cidades.

O ponto de partida do debate foi a promoção de informações aos usuários, a fim de facilitar o acesso ao serviço de transporte público nas cidades e aumentar a atividade. De acordo com os palestrantes, uma comunicação mais transparente, uso de dados abertos debate público qualificado podem contribuir para apoiar o desenho de soluções.

Outro tema que foi destaque envolveu o futuro da mobilidade urbana, trazendo um panorama das diferentes tecnologias que estão sendo criadas para um futuro com uso de bicicletas e carros autônomos sem motoristas. Além desse desenho, o painel discutiu desafios e barreiras que podem atrasar esse futuro mais sustentável e acessível. Josep Garcia comentou que implementar estratégias públicas podem incentivar sistemas de mobilidade sustentáveis, entre outros pontos.

 

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