29/10/21

FNP e Vanzolini debatem combate à desigualdade social por meio de inclusão digital

Segunda edição do webinar promovido pelas entidades trouxe a inclusão digital como alternativa de reduzir disparidades no Brasil

O fenômeno da exclusão digital está ligado aos marcadores de desigualdade, como território, gênero e raça. A conclusão foi levantada durante a segunda edição do webinar “Cidades inteligentes e humanas: desafios e caminhos da gestão municipal”, realizada pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) em parceria com a Fundação Vanzolini nesta sexta-feira, 29. O tema proposto, “Inclusão digital é inclusão social!”, motivou a discussão em torno dos investimentos em tecnologia por parte dos municípios. Assista aqui.

O prefeito de Cachoeiro do Itapemirim/ES, Victor Coelho, vice-presidente de Governo Digital da FNP, lembrou que a falta de recursos, seja da própria prefeitura, seja por barreiras culturais, ainda é um desafio enfrentado pelos municípios. “Como a maior parte dos recursos vai para outras áreas, como saúde e educação, sobra muito pouco para investir em tecnologia”, observou.

Victor compartilhou a experiência no setor e afirmou que essa é uma das prioridades no município capixaba. “Fizemos uma transformação e investimos para que a tecnologia pudesse servir melhor à população. Queremos levar tecnologia a todos, queremos que ela transforme a sociedade, que possa proporcionar soluções para o cidadão. Não queremos uma cidade cheia de tecnologia e que não tenha funcionalidade”, frisou.

Entre as iniciativas apresentadas pelo prefeito, está o investimento de mais de R$ 20 milhões em digitalização de processo, hardwares, softwares e aplicativos. “Além disso, ampliamos nossos pontos de wi-fi pela cidade. Cachoeiro tinha poucos pontos, agora temos 37 e nossa meta é chegar a 100. Os pontos estão onde há maior concentração de pessoas”, completou.

A população do município conta, ainda, com aplicativos voltados para turismo, cultura, serviços de pagamentos de taxas e impostos, informações sobre COVID-19, ouvidoria e esportes. Sobre esse último, ele citou números que impressionaram a prefeitura. “O app ‘Nosso Esporte Cachoeiro’ mostra onde há atividades esportivas no município. Ampliamos em 600% o número de praticantes. Antes eram 200 pessoas e depois passamos a ter cinco mil, especialmente durante a pandemia”, orgulhou-se. O município investiu também em canais de comunicação com a população e modernizou o site, que concentra os serviços oferecidos pela prefeitura.

Daniel Annenberg, vereador em São Paulo, comentou sobre a desigualdade social no Brasil, “uma das maiores do mundo.” “Já temos tecnologia em todos os lugares, o Brasil está entre os 20 países com mais serviços ofertados de forma digital, mas ainda assim temos uma enorme exclusão digital”, lamentou.

“Precisamos ter iniciativas públicas e privadas, parcerias, políticas de inclusão, se quisermos mudar o rumo da história. É preciso pensar em um planejamento para os próximos 20 anos, porque sabemos que não é da noite para o dia. É preciso um processo, um planejamento. Se não tivermos esse planejamento, essa política de inclusão, aumentaremos a desigualdade”, adiantou Annenberg.

A coordenadora da área de Tecnologias e Governos do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas, Maria Alexandra Cunha, fez uma reflexão sobre a exclusão digital no país. “É um tema antigo, importante e pouco compreendido”, alertou. Ela citou que esse fenômeno possui alguns níveis e que eles estão ligados aos marcadores de desigualdade.

“Não basta ter acesso à tecnologia, tem que ter habilidades, como saber ler e escrever. E os excluídos digitais são definidos de uma maneira um pouco mais ampla. Não são apenas aquelas pessoas que não têm acesso, mas as que estão em desvantagem, porque são incapazes ou menos capazes de obter informação, comprar on-line, participar democraticamente, aprender habilidades ou oferecê-las. E tudo isso passa por nuances como território, gênero, idade, raça”, elencou.

Compartilhando as experiências de Recife/PE, o secretário-executivo de Transformação Digital do município e vice-presidente de Soluções Inovadoras do Fórum Inova Cidades da FNP, Rafael Figueiredo, brincou que “vivemos quase que em uma Matrix hoje em dia, num mundo híbrido.” Ele apresentou, durante o webinar, o que chamou de “solução tecnológica”: um sistema chamado “GO Recife”, que reúne os serviços ofertados pela prefeitura à população.

“O prefeito João Campos (vice-presidente de Mudanças Climáticas da FNP), por ser um prefeito jovem, disse que se pudesse deixar uma marca, seria a da transformação digital. Por ela, a gente consegue dar saltos maiores”, reforçou Rafael. Ele destacou, dentro do GO Recife, a parte de empregos.

“Era muito comum o cidadão ir de agência em agência para saber das vagas, era uma verdadeira via-crúcis. Para superar esse desafio, descobrimos o que tínhamos dentro da prefeitura para impulsionar e mudar esse cenário. Lá na plataforma, o cidadão pode encontrar atendimento sobre o assunto, sala do empreendedor, cursos e serviços para autônomos. Queremos criar um ambiente de esperança”, finalizou.

O segundo webinar “Cidades inteligentes e humanas: desafios e caminhos da gestão municipal” contou ainda com a participação de Michel Batista, assessor em Inovação e Tecnologia da Fundação Vanzolini, mediando o debate. Para assistir ao primeiro debate, clique aqui.

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Os assuntos tratados neste texto estão localizados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 - Educação de Qualidade; 9 - Indústria, Inovação e Infraestrutura; 10 - Redução das Desigualdades; 17 - Parcerias e Meios de Implementação. Saiba mais aqui.

Redator: Jalila ArabiEditor: Livia Palmieri
Última modificação em Sexta, 03 de Dezembro de 2021, 08:43
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