Os prefeitos podem pressionar os países a estabelecer metas climáticas mais ambiciosas
Por Michael R. Bloomberg e Eduardo Paes*
A conferência climática da ONU deste ano, a COP28, incluiu uma novidade histórica: prefeitos e líderes locais participaram da agenda oficial. É um sinal encorajador para os gestores municipais que desenvolvem as formas mais inovadoras para enfrentar as alterações climáticas. Governos locais tiveram um espaço de destaque, no dia da cúpula de chefes de Estado, para incentivar as nações a ser mais ousadas e a agir mais rapidamente.
Em 2015, prefeitos invadiram a COP, em Paris, e pressionaram os líderes nacionais para adotar o primeiro acordo global sobre as alterações climáticas. E conseguiram! Os líderes das cidades reconheceram na época, como agora, que a redução das emissões anda de mãos dadas com a melhoria da saúde pública e o fortalecimento das economias locais.
Em 2025, uma década depois do Acordo de Paris e da adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, uma COP30 histórica acontecerá no Brasil. Na preparação, é essencial que mais fundos — públicos e privados — financiem as cidades que têm ações para reduzir as emissões.
O Rio em 2023 tornou-se o primeiro município da América Latina a assinar um Contrato de Compra de Energia (Power Purchase Agreement/PPA) garantindo o fornecimento de energia 100% renovável para a principal sede do município. A iniciativa evitará cerca de 40 mil toneladas de emissões de carbono e poupará US$ 5 milhões nos próximos cinco anos. A equipe da Prefeitura do Rio trabalha no próximo PPA para beneficiar unidades de saúde e outros edifícios municipais.
As ações estão nas cidades, que são os motores do crescimento econômico e representam mais de 80% do PIB global. Os municípios dos mercados emergentes têm potencial para atrair mais de US$ 29,4 bilhões em investimentos relacionados ao clima até 2030.
A comunidade internacional tem papel essencial no apoio à inovação climática das cidades. Alemanha e Luxemburgo lideram uma parceria global chamada City Climate Finance Gap Fund. No Rio, o Gap Fund apoiou o projeto de soluções baseadas na natureza para controlar as inundações na região do Jardim Maravilha. Outros países podem aderir a esse movimento global financiando e ajudando a divulgar os avanços das cidades.
As reformas financeiras globais também podem garantir que o financiamento chegue às cidades. O Banco Mundial e outros bancos multilaterais de desenvolvimento foram criados para servir as nações devastadas pela Segunda Guerra Mundial. Hoje, têm a oportunidade de ajudar as nações, especialmente no Sul Global, a mitigar as mudanças climáticas, que apresentam sérios perigos para os cidadãos, incluindo os conflitos armados.
Os prefeitos também podem pressionar os países a estabelecer metas climáticas mais ambiciosas — as contribuições determinadas em nível nacional (NDCs) — e a liderar o caminho para esses objetivos. Além de consultar os decisores políticos federais sobre as NDCs, os líderes municipais também devem destacar as estratégias e soluções para suas comunidades se adaptarem e prosperarem nesta era de alterações climáticas. Em 2024, o Rio sediará o encontro de Cúpula do G20 e copresidirá o Urban20 (U20), grupo oficial de engajamento do G20 liderado pelas cidades. São 38 grandes cidades do Norte e do Sul globais. Portanto, entre agora e a COP30, os prefeitos do Brasil e de outros países veem amplas oportunidades para garantir maior financiamento para ações climáticas locais transformadoras.
Por pura necessidade, as cidades ameaçadas por condições meteorológicas extremas e pelo aumento do nível do mar se tornaram centros de inovação mundiais para soluções climáticas. Mas essa inovação não deve terminar nos limites da cidade. Se os líderes de todos os níveis de governo unirem forças, não haverá limite para o que podemos alcançar para nossas cidades, nossos países e nosso mundo.
*Michael R. Bloomberg, enviado especial da ONU para Ambições e Soluções Climáticas, é filantropo e foi prefeito de Nova York, Eduardo Paes é prefeito do Rio e representante especial da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos para mudanças climáticas