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22/12/25

Cidades turísticas devem cobrar taxa ambiental de visitantes? SIM

Rafaela Araújo/Folhapress Cidades turísticas devem cobrar taxa ambiental de visitantes? SIM

por Toninho Colucci

Prefeito de Ilhabela (PL-SP), é presidente do Consórcio de Turismo do Litoral Norte; a exemplo de cidades da região, arquipélago planeja começar a cobrar taxa ambiental ainda neste verão

       Mecanismos de gestão e prevenção:

  • Quem utiliza o território contribui para mantê-lo; dessa forma, o custo da visitação intensa deixa de recair exclusivamente sobre os moradores;
  • Experiência mundial mostra que prática não afasta os visitantes, que acabam valorizando destinos comprometidos com a conservação.


Cidades turísticas vivem uma dinâmica particular. Em poucos meses, recebem um fluxo de visitantes que supera, com frequências, múltiplas vezes a população local. Essa movimentação impulsiona a economia, fortalece o setor de serviços e gera empregos. Mas também traz impactos significativos: pressiona a infraestrutura urbana, aumenta a demanda por serviços públicos e exige atenção redobrada à preservação ambiental. São mais resíduos, mais pessoas nas praias, trilhas e atrativos turísticos, que necessitam de manejo constante, fiscalização eficaz e investimentos permanentes.

Nesse contexto, a taxa ambiental não deve ser tratada como barreira ao turismo, mas sim como instrumento contemporâneo de equilíbrio - adotado por diversos destinos nacionais e internacionais com resultados consistentes. A lógica é simples e justa: quem utiliza o território contribui para sua manutenção. Assim, o custo da visitação intensa deixa de recair exclusivamente sobre os moradores, que não podem arcar sozinhos com os impactos da alta temporada.

A experiência mundial mostra que taxas ambientais não afastam visitantes. Pelo contrário, valorizam destinos comprometidos com a conservação de seus patrimônios naturais e culturais. O turismo sustentável deixou de ser tendência e passou a ser exigência global.

Os recursos arrecadados ampliam a capacidade de planejamento das gestões públicas: reforçam a limpeza urbana, aprimoram a gestão de resíduos, fortalecem a proteção de áreas sensíveis, mantém trilhas e acessos, recuperam trechos degradados e permitem investimentos em educação ambiental. É um mecanismo transparente, vinculado a ações específicas de preservação.

Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, é exemplo claro dessa realidade. Entre este mês de dezembro e o carnaval, o arquipélago deve receber cerca de 1 milhão de visitantes, embora tenha apenas 36,5 mil habitantes, segundo o IBGE. Nesse período, o volume de resíduos costuma alcançar cerca de 2.0000 toneladas por mês. Como município arquipélago, com grande parte do território protegido, a pressão é ainda maior e exige respostas proporcionais ao desafio.

Mas essa não é uma particularidade de Ilhabela. Cidades litorâneas, serranas, históricas ou voltadas ao ecoturismo enfrentam dilemas semelhantes: como equilibrar desenvolvimento econômico, conservação ambiental e qualidade de vida para moradores e visitantes? A taxa ambiental é uma resposta moderna, eficiente e socialmente justa para sustentar esse equilíbrio.

O objetivo não é punir, mas preservar o que torna cada destino único. Manter praias limpas, trilhas seguras, áreas protegidas conservadas e infraestrutura capaz de funcionar diante da população flutuante é uma necessidade real. Sem instrumentos de compensação, a conta recai exclusivamente sobre o Orçamento municipal —e, portanto, sobre quem vive permanentemente no território. É um modelo que gera distorções, compromete serviços essenciais e limita investimentos estratégicos.
Proteger cidades turísticas é garantir a continuidade de sua beleza, biodiversidade, história e das experiências que oferecem.

É essencial que o debate avance com base em evidências. Cidades altamente visitadas precisam de mecanismos modernos de gestão ambiental, capazes de equilibrar uso e preservação. A taxa ambiental é um deles. Ela protege o território, promove justiça fiscal e assegura que o turismo siga como motor de desenvolvimento -sem comprometer o próprio destino nem a qualidade de vida de quem o chama de lar.

Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo.

Última modificação em Segunda, 22 de Dezembro de 2025, 10:41