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21/05/21

FNP e Conectar apresentam experiências de monitoramento e planejamento na pandemia

Metodologia apresentada por Campinas/SP mostrou que é possível monitorar dados a fim de antecipar e planejar cenários no enfrentamento à COVID-19

Diante de uma possível terceira onda da pandemia, é possível planejar e até antecipar informações para identificar se o sistema de saúde local ficará sobrecarregado ou não e, assim, minimizar os danos causados pelo novo coronavírus. A constatação foi feita durante o evento virtual "Como sua cidade pode planejar ações de enfrentamento à COVID-19 - a experiência de Campinas com indicadores de avaliação e monitoramento na pandemia", promovido pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e pelo Consórcio Conectar nesta sexta-feira, 21. Assista aqui ao evento

O estudo de caso apresentou a metodologia adotada no município paulista para monitoramento e avaliação de indicadores a fim de instrumentalizar o prenúncio de cenários no enfrentamento à COVID-19. De acordo com a Secretaria de Saúde local, o acompanhamento criterioso dos dados que compõem a evolução local dos padrões epidemiológicos e o impacto disso na cidade permitiram uma tomada mais ágil de decisões por parte das autoridades municipais.

O evento foi aberto pelos prefeitos de Aracaju/SE, Edvaldo Nogueira, e de Palmas/TO, Cinthia Ribeiro, com mediação do secretário-executivo da FNP, Gilberto Perre. Edvaldo Nogueira, presidente da FNP, reforçou a importância de ações coordenadas entre os entes federados no enfrentamento à COVID-19. "Estamos agora em momento muito importante do combate à pandemia. Distanciamento e medidas de prevenção estão sendo tomadas a partir do esforço gigantesco dos prefeitos e governadores", lembrou.

Na opinião do prefeito, a experiência de Campinas é muito “positiva e importante e pode ser compartilhada para que a gente possa aprender, porque é uma experiência de prevenção. Prevenir é melhor do que remediar”, observou.

Cinthia Ribeiro, também vice-presidente do Conectar, frisou que o consórcio, instituído pela liderança da FNP, reúne mais de 2,5 mil municípios e representa mais de 150 milhões de brasileiros. “Somente com a vacina poderemos ter um possível retorno seguro às atividades que a gente tanto precisa.” Além disso, Cinthia afirmou que experiências municipais exitosas no combate à pandemia podem nortear as demais prefeituras. “Essas experiências fazem com que a defasagem de linguagem entre os entes federados seja organizada”, disse.

Antecipação e planejamento
Durante o evento, o prefeito de Campinas/SP, Dário Saadi, e o chefe de gabinete de Cascavel/PR, Thiago Stefanello, apresentaram as experiências municipais na gestão da pandemia. No município paulista, a partir de indicadores de alertas, houve um melhor aproveitamento local do que o registrado durante a segunda onda em todo o estado.

Segundo Saadi, vice-presidente de Saúde da FNP, com o método, é possível antecipar situações mais complexas em quatro, seis e até oito semanas e evitar o colapso da rede hospitalar. “Todos os indicadores são importantes, mas esses foram fundamentais para que Campinas tomasse medidas mais restritivas e antecipadas que o estado, evitando colapso na rede hospitalar.” Algumas ações, conforme o prefeito, pareceram “antipáticas” à população na época, mas foram fundamentais para evitar uma tragédia maior.

Entre março e abril deste ano, houve um aumento no número de mortes no estado de São Paulo de 42%. Nesse mesmo período, houve queda de 13% em Campinas. O sucesso do resultado é atribuído a medidas como toque de recolher, fiscalização mais intensa de aglomerações, restrição de circulação de pessoas e campanhas de comunicação e de educação, entre outras.

A experiência em Campinas mostrou que indicadores precoces devem ser monitorados para “tomada oportuna de decisões.” O monitoramento foi dividido em três eixos: indicadores de morbidade, laboratoriais e de hospitalização. De acordo com um dos dados apresentados, o número de hospitalizações e/ou aumento de casos graves são considerados indicadores tardios. “É preciso observar o número de casos de síndromes gripais e a variação do número de sintomáticos respiratórios nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)”, adiantou a epidemiologista e diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas, Andrea Von Zuben.

Na opinião da epidemiologista, o problema é que a maioria das prefeituras começa a tomar atitudes a partir do momento que a curva está em ascensão, o que pode provocar colapso no sistema de saúde que não está preparado com o número de leitos adequado. “Quando existe a internação, muita coisa já aconteceu antes, como pessoas transmitindo a doença para outras pessoas. Já tem muita gente infectada, por isso esse indicador é considerado tardio.”

A prefeitura pediu que 67 UBS do município e dos que rodeiam a região começassem a anotar quantas pessoas chegavam por semana com sintomas respiratórios. A partir disso, foi criado um sistema que tornou perceptível prever que haveria aumento na procura de hospitais em quatro ou seis semanas. “Outro indicador é a taxa de positividade dos RT-PCR. Se começa a aumentar o número de positivos para o teste, é sinal de que a circulação viral aumentou e que em cerca de seis semanas teremos aumento no serviço hospitalar”, detalha Andrea.

Ela reconhece que cada município tem uma realidade diferente e que a experiência de Campinas pode ser um norte para tomada de decisão local. “A métrica é o início do sintoma, a chegada à UBS, essa é a grande diferença.” Acesse aqui a apresentação.

Educação
Em Cascavel/PR, a prefeitura optou por vacinar os trabalhadores da educação adotando a metodologia do coeficiente de incidência por bairro, em detrimento do critério de idade decrescente, para acelerar o retorno às aulas por completo em cada escola. “Vacinamos por completo o bairro para que a escola daquela localidade voltasse às aulas, porque por idade não ia funcionar. Seria um vacinado de uma escola, outro vacinado de outra escola e isso atrasaria o processo”, disse Thiago Stefanello, chefe de gabinete.

Até o momento, segundo a prefeitura, mais de 1,6 mil trabalhadores da categoria já foram imunizados e muitas escolas nos bairros da cidade paranaense já retomaram as aulas. “Fizemos testes com os professores e trabalhadores 15 dias após a vacinação e não registramos mais casos positivos para a doença”, comemorou Stefanello.

A epidemiologista Carla Domingues, consultora da FNP e do Conectar, participou do debate e elogiou as iniciativas. Para ela, a ausência do governo federal nas medidas de prevenção obrigou estados e municípios a tomarem decisões, que muitas vezes não tiveram o apoio da população. “É muito difícil convencer a população da importância dessas medidas agora, já que não tivemos apoio do governo federal”, lamentou.

Segundo Carla, para que haja sucesso no combate à pandemia, é preciso olhar a situação epidemiológica à luz de cada realidade. “Somos um país continental. O lockdown pode servir para uma determinada região e não servir para outra, é preciso olhar a situação epidemiológica de cada localidade para que se tenha instrumentos adequados para enfrentar a doença. É preciso também ter comunicação clara com a população. Se ela não entender os mecanismos para frear a transmissão, não vai resolver. Trazer a população para o nosso lado, com transparência, com dados para tomada de decisão é fundamental.” 

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Os assuntos tratados neste texto estão localizados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 - Saúde e Qualidade; 16 - Paz, Justiça e Instituições Eficazes; 17 - Parcerias e Meios de Implementação. Saiba mais aqui.

Redator: Jalila ArabiEditor: Livia Palmieri
Última modificação em Segunda, 09 de Agosto de 2021, 11:38